e fim.

quarta-feira, 30 de junho de 2010


Caros terrestres, pecadores, irresponsáveis e folgados.
Venho por meio desta comunicar-lhes que sou santo sim, acho coisas sim, mas vocês deveriam ao menos procura-las antes !
Ora, cada pedido: São Longuinho, acha minha caneta? ou São longuinho, cadê minha tarrachinha ?
Porque não São Longuinho, onde perdi minha vergonha na cara?
Quaisquer coisas que percam, por menos valor que esta tenha, me botam feito louco a procurar.
Fica aqui a minha praga de santo enraivecido: ou procuram, ou procuram. Estou em greve.
E TENHO DITO!

São Longuinho
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Desenrolar de Calcutá

terça-feira, 29 de junho de 2010


Francisco era um homem vindo de uma família muito rica, e, ainda quando jovem, renunciou a todos seus benefícios como herdeiro em função de uma forte paixão. Desposou-se da Senhora Pobreza, abandonou sua cidade e foi viver como andarilho. Ao saber da notícia, Clara, resolveu seguir seus passos, abandonar seu luxuoso lar e pegar a estrada. Sua mãe, Maria, preocupada com a estranha decisão decidiu intervir. Inicialmente, a intenção era arranjar um casamento vantajoso para a família, mas, um misterioso rapaz, de nome Gabriel, alertou-a: “A ação de Clara não deve ser impedida. Mande Antônio a seu encontro.” Temendo o desconhecido, a mãe aceitou a sugestão. Pediu a Antonio, um antigo amigo, para interceptá-la no meio do caminho.
Clara caminhou durante seis dias apenas com a roupa do corpo, uma garrafa de vinho e um pouco de pão. No sétimo dia, Antonio a encontrou e pediu para acompanhá-la, levou água, mais comida e uma muda de roupa, o que fez com que a jovem ficasse um tanto quanto aliviada e aceitasse a proposta. Naquele mesmo dia, chegaram a Calcutá, onde Francisco e Pobreza haviam se instalado. O casal abriu uma loja de animais e conseguiu estabilizar a vida, o que, obviamente, deixou Clara completamente desconcertada. Teresa, vendo o desespero da pobre moça, ofereceu abrigo aos viajantes. Infelizmente, a bondade da senhora não era suficiente para curar um coração partido. Antônio e Teresa, após ficarem semanas observando as lágrimas de Clara, tiveram e brilhante ideia de apresentá-la a Tomás, um amigo muito sábio vindo de Aquino. Foi amor a primeira vista.
Antonio ficou conhecido como o padrinho dos namorados, e só abandonou Calcutá para ir a Lisboa livrar seu pai da forca. Clara abandonou Tomás e fundou uma escola de culinária chamada Clarissas, em homenagem às suas tres filhas: Ana Clarissa, Maria Clarissa e Júlia Clarissa. Tomás ficou deprimido, se refugiou no fundo de um poço onde encontrou Aristóteles, e tirou diversas teorias. Teresa fez de sua casa um abrigo para os necessitados e ficou conhecida pelo bom coração. Francisco resolveu expandir o negócio e estabelebeu uma sociedade com Noé, o que lhe rendeu muitos benefícios em um futuro relativamente próximo.
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domingo, 27 de junho de 2010


Vou contar pra vocês aquela velha história, da cigarra e da formiga. O que se houve da boca do povo não é totalmente verdade, e estou aqui para revelar os verdadeiros episódios vividos por esses dois ilustres animais.
Dona formiga era muito trabalhadora, já era o meio do verão e ela ainda não tinha parado para dar um passeio, ou repousar numa sombra pra ver a tarde passar. Não, ela não tinha tempo pra isso. Era compenetrada, focava toda a sua energia em carregar folhas para o seu formigueiro. Assim, quando chegasse o inverno, estaria preparada. Fazia um tempo que já tinha o alimento necessário, mas pensava que quanto mais melhor.
Num dia ensolarado, eis que passa por dona formiga uma cigarra cantarolante, dançando e batendo palmas, numa felicidade sem tamanho. A formiga ficou inconformada com aquilo, essa cigarra deveria estar se preparando para o inverno também! “Você deveria ter mais juízo, onde já se viu uma coisa dessas? Cantando por aí, quando deveria estar trabalhando!” A cigarra calmamente argumenta que o verão é pra aproveitar: “a vida é bela, a morte é certa, e o Sol está a brilhar! Por que você não vem comigo e fazemos uma serenata para aquela linda abelhinha da árvore ao lado?” A formiga rapidamente recusa o convite, diz ser um animal sério e não ter tempo para tais coisas. E que, chegando o inverno, a cigarra se arrependeria daquela farra toda. Dona cigarra limitou-se a ter pena daquela pobre formiga, tão estressada em um dia tão bonito. Ela própria já tinha colhido alimento o suficiente para o inverno, e sabia que não era necessário tanto esforço. Seguiu cantarolando.
A formiga, esforçada, juntava todo o seu alimento em um dos aposentos do formigueiro. Foi formando uma imensa pilha de mantimentos. Um dia, chegando carregada como sempre, foi colocar sua colheita diária em cima da pilha. De repente, aquela coisa imensa começou a desmoronar, bem em cima da formiga. Ela ficou desesperada, tudo caía em cima dela, seria soterrada!
Acabou que não se machucou muito, a montanha de alimentos se espalhou e não caiu toda em cima dela. O que teve foi um ataque do coração. Por pouco conseguiu se safar, sendo levada a tempo ao hospital.
Passado o susto, a formiga refletiu sobre sua maneira de levar a vida. Percebeu que aquele excesso de trabalho era desnecessário e estava lhe fazendo mal, ela quase morreu por causa disso. Decidiu mudar.
Pegou a parte realmente necessária do que tinha colhido e guardou. Com o resto, fez um super jantar no formigueiro. Como não podia deixar de ser, a cigarra foi sua convidada especial.
Elas hoje são grandes amigas, vivem fazendo serenatas por aí.


Moral da história: Quem faz do trabalho sua vida, pode acabar sendo esmagado por ele.
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Eleições na selva

sábado, 26 de junho de 2010


A selva amanheceu com um alvoroço além do normal. A bicharada saía pelas clareiras bradando suas escolhas, vestida de acordo com a sua opinião; Grupinhos de conversa eram formados em todos os cantos, discutindo com afinco um assunto em comum. Também, pudera, em época de eleição para o novo Rei da Floresta, tanto barulho tem razão.

Os bichos daquela comunidade eram ligados à política, e escolhiam a dedo o melhor governante (ou, pelo menos, boa parte dos bichos tentava acertar). Por esse motivo, quando a votação se aproximava, cada candidato tinha um tempo limitado diante da plateia para expor seus ideais.

Dessa vez, a primeira a se manifestar foi a Galinha, em sua segunda tentativa de eleição. Discursou bonito, prometendo continuar com excelência o trabalho da Lula, ex-presidente. Argumentou também que agora, em sua segunda chance, estava mais preparada e amadurecida para o importante cargo.
A surpresa veio ao término de seu pronunciamento: Apesar da convincente oratória, foi pouquíssimo aplaudida. A explicação veio a seguir: O Gambá tomou seu lugar e, mal havia subido ao palco, foi ovacionado pelos animais, reforçando sua posição de favorito ao cargo.
Iniciou e progrediu seu discurso de forma inflamada e agressiva:

- Caros amigos, estou aqui de cara limpa a falar frente aos senhores, isso pois sou um amante da transparência, um amigo da democracia, um admirador da verdade. É minha obrigação, como cidadão de nossa famigerada floresta, alertar a todos vocês, eleitores, sobre as mentiras que têm sido contadas, e sobre a real situação de uma conhecida em comum a todos nós.

A bicharada ouvia com atenção, enquanto o Gambá prosseguia com voz retumbante:

- Infelizmente, falo de uma concorrente ao posto de governante da selva. Sim, companheiros! A Galinha que aqui discursa em frente aos senhores, educada e ereta, que tanto fala em justiça e igualdade, é na verdade uma farsante!

A Galinha arregalou os olhos e levou a asa ao peito, ofendidíssima, enquanto o Gambá enxugou uma gota de suor que descia de sua testa. A plateia teve tempo para processar a informação, e exclamou algo parecido com um "oooh" de surpresa.

- Explico o porquê de uma afirmação tão dolorosa, meus caros. Saibam vocês que ontem, às vésperas desse pronunciamento, minha equipe flagrou essa candidata a representante da lei dentro de nossos aposentos, vestida de preto e camuflada, acompanhada de seus assessores. Vocês me perguntam, queridos, o que faria essa fêmea nos meus aposentos eleitorais? Eu vos respondo com profunda indignação: A Galinha estava defecando em nosso material de divulgação, estragando a nossa campanha!!!

A Galinha olhou para os lados, nervosa, enquanto sua assessoria a amparava, retirando-a com calma e resignação do local. A bicharada entendeu isso como uma declaração de culpa, e já começou a se alvoroçar. O Gambá, aproveitando a agitação popular, continuou, agressivo:

- Eu falo nada a mais que a verdade, amigos! Esta é uma demonstração das nojeiras que essa galinácea suja é capaz!

Os bichos, revoltados, se uniram em um coro de "SUJA!! SUJA!! SUJA!!" enquanto a galinha saía envergonhada do local. O Gambá olhava satisfeitíssimo para a atmosfera que tinha criado, quando algo inesperado aconteceu...

Vocês sabem, Gambás são bichos imprevisíveis, soltam um gás muito fedorento nas situações mais inesperadas: Quando estão nervosos, ansiosos, ou empolgados..

E foi o que aconteceu. O Gambá, que tinha protestado tanto contra a nojeira da Galinha, se empolgou com a situação e soltou um pum tão fedorento, mas tão fedorento, que afastou todos os bichos do comício. Todos eles perceberam que tinha sido o Gambá o autor da bomba, e saíram enojados do lugar. Duas lêmures fêmeas vomitaram de nojo, e um flamingo idoso desmaiou.

O resultado? Mais da metade dos bichos votou em branco naquela eleição. Desde então, todos optaram por fazer da selva uma anarquia.

MORAL DA HISTÓRIA: Quem tem teto de vidro não apedreja o dos outros.
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República Democrática da Cozinha do Norte

sexta-feira, 25 de junho de 2010


CRECK!
- Liberdade, liberdade!!!Não acredito!Vivaaaa!!
-Ufs....ai, ufa!Não aguentava mais,credo!ahhh...consigo me locomover...espaaaaçooo!Mas aqui....achei meio repentino esse alvará de soltura, cê num achou não?
-Ai, Gê, para de reclamar!Que ranzinza!Deve ser cois do governo novo.Ouvi de lá de dentro que as coisas iam mudar pra nós..aliás, pra você eu não sei como vai ser,né.Porque pra minha raça....
-Raça???
-É,você sabe.Meus ancestrais.A gente tem uma tarefa diferente do povo da sua laia.Já sabíamos que seria assim.
-Mas e a nossa amizade??
-Querida, desculpa, mas olhe ao seu redor.Tudo branquinho, limpinho, que nem eu.Fui feita para servir aos deuses.Já você...
-Ah, é, menina?E o antirracismo que você sempre pregou quando precisou da minha ajuda, hein?Esqueceu dele agora?Só porque não precisa mais de mim!
-Todo mundo muda com o tempo, beibe.Só lhe resta se adaptar.
-Babaca....não acredito!Cuidei de você!Alimentei você, te dei conselhos quando estávamos na prisão!E é assim que você me agradece?Me largando à mercê desses soldados sanguinários?
-Gê, para com isso!Eu já fiz a minha parte, te protegi a vida inteira!Agora é a minha vez de brilhar, ser do mundo pelo menos uma vez!Você é muito reclusa, tem um gosto muito diferente para as coisas, não tem como me acompanhar nessa nova vida!Já está na hora de seguirmos nossos caminhos,nada mais natural!
-SUA BURGUESINHA DE MEEEERDA!RACISTA!
-Cara cidadã, de nada adiantam essas palavras ofensivas. Nosso destino se aproxima. Acostume-se com o seu.
-AMIGA-DA-ONÇA!!!VIRA FOLHAA!Aimeudeus!S-seu g-guarda??
-Srta.Gema, acompanhe-me, por favor.
-Pr-pra onde vamos??
-  A srta. será encaminhada ao Centro de Treinamento da Operação Quindim.
-Sério???Quanta honra, senhor!Que alívio!Hehe, achei que ia acabar mofando na geladeira para sempre, sabe como é....
- Não, não.A chefe pediu tratamento especial para você esta noite.Disse que será a principal da missão.
-Uhuuul!!!!Mas aqui...e a Clarinha?
-Bom, a srta. Clara não terá tanta sorte. Parece que a chefe não gostou muito do escarcéu que ela fez quando foi solta,sujou muito a mesa.A srta. bem sabe que em nossa amada República não admite tanta petulância dos cidadãos. Clara será devidamente punida em breve.
-Tá, mas que pena que ela vai pegar?
- Batedeira.


Moral : muito cuidado ao agir às claras em uma República Democrática

Submoral : independentemente de cor ou raça, todo mundo acaba na mesma m***a.
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Cuidado, isso passa por osmose!

quinta-feira, 24 de junho de 2010


Epaminondas, Luíz Epaminondas era seu nome. Sempre ocupava aquele mesmo lugar da fonte na hora da sopa, fazia isso porque era mais cômodo. Não que fosse um lugar confortável, na verdade tinha que ficar empuleirado nas grades de proteção daquele que era um dos principais monumentos da cidade. Era também um dos seus lugares prediletos no mundo, não que já tivesse saido do bairro, mas a razão pelo seu apresso era que sua família fazia parte da história daquele lugar.
- Não me diga, sua família era tão importante assim? E você aqui, tomando sopa em praça pública...
- É fácil pra você dizer, você é uma mosca. Moscas não são forçadas a fazer tantas escolhas. Escolhas dão trabalho.

Por que uma mosca? Moscas e sopas andam juntas, assim dizia a velha canção.

- Vamos, continue a história. Você falava sobre a fonte.
- Sem pressa, minha amiga, porque tanto desespero vai esgotar as suas energias. Quem mandou fazer essa fonte foi meu bisavô Epaminondas. Sim, foi por causa dele que ganhei esse nome. Minha tataravó, filha de fazendeiro desocupada de tudo nessa vida, era apaixonada por história antiga. Colocou esse nome "exótico" em homenagem a um general que transformou Tebas em uma potência grega superior a Esparta. Por que isso era importante pra ela? Onde fica a Grécia? Nunca me explicaram. Eu não me importo.
- E não era a elite pensante de Rio Acima! Naquela época pouca gente aqui devia saber que o mundo é redondo.
- Verdade. Mas é fato que meu bisavô herdou muitas cabeças de gado, uma biblioteca cheia de livros carunchentos e gansos. Já te falei o quanto detesto gansos?
- E o que aconteceu com a fazenda?
- Uai, passou pro meu avô que passou pro meu pai.
- Ele passou pra você?
- Meu pai era um homem de visão, agitado demais coitado, dava desânimo só de ver. Que Deus o tenha em paz deitado em uma rede na beira da praia do paraíso. Dizia que tranformaria aquelas vacas anêmicas nas maiores produtoras de leite da região. Mas fez um inferno, com perdão da palavra, pra pegar um empréstimo no banco. Queria, porque queria, "despertar meu espírito de pecuarista de sucesso".
- Ahh, mas é difícil de acreditar que você algum dia teve espírito de sucesso em alguma coisa. Essa história está ficando longa, não!
- Muito obrigado pela parte que me toca, mas como ia dizendo... Tive que falar que aquela vida de roça não era pra mim. Tinha ódio do galo infeliz que começava a gritar quando ainda era noite, ainda tinha aquela conversa de ter que ficar de olho nos peões, subir e descer de cavalo, correr de ganso. Ai, credo! Isso não era vida de gente como eu.
- Gente desocupada ou preguiçosa?
- Qual o seu problema! Você vem aqui, pousa na minha sopa, ainda assim eu abro meu coração e você me trata desse jeito!
- Perdão, amigo. Vou ficar calado e evitar a fadiga.
- Pois bem, disse que meu lugar era a cidade com toda sua praticidade. Meu pai levou a coisa a sério e me mandou pra capital estudar números. Ai, mas que ideia fraca! Minha cabeça doi só de pensar. Disse que sentia muita falta dele e de minha mãezinha. Ela ficou tão sensibilizada que me trouxe de volta pra grande Rio Acima. Fiquei aliviado! Esse trem de estudo dá muito trabalho.
- E o que aconteceu com a fazenda, a fonte o dinheiro?
- A fazenda já era. Meu pai queria ser prefeito e resolveu dar uma fonte de presente pra cidade. Falou que incentivaria o turismo, o desenvolvimento.
- E foi prefeito?
- Nada, o mais perto da prefeitura que ele chegou foi quando a fazenda foi leiluada pra pagar o empréstimo e a casa virou o atual prédio da prefeitura.
- Nossa, aquela casa já foi sua?
- É... Triste, não! Meu pai era um homem de visão, mas tinha o fígado prejudicado. Quando eu voltei ele me passou os negócios. Moço, esse trem de números dá muito trabalho. Fato é que a fazenda não existe mais, a fonte só atraiu pombos e dinheiro... Ai, se não desse tanto trabalho...
- Bateu um cansaço com esse caso triste...

[SPLOCK]__ A mosca é esmagada por uma colher por não se dar o trabalho de desviar o ataque.

- Seu Luíz, o senhor não viu a mosca que estava na sua sopa, não!

Moral: A preguiça é contagiante e ela mata.
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Fábula da modernidade

quarta-feira, 23 de junho de 2010


Dois namorados se encontraram para ir ao cinema. Chegando lá, Leo diz:
- Bia, guarda meu celular pra mim?
- Claro amor – responde Bia, e o guarda em sua bolsa.

Zuuupt. O zíper se fecha.
- BlackBerry 1, cadê você companheiro?
- Fala colega, to aqui!
Os dois celulares começam a bater papo... contar das novas atualizações, exibir seu novo enfeite, discutir as melhorias. Derrepente, o assunto muda:
- Mas e aí, o que o Leo tem feito atualmente?
- Não devia te contar, c sabe né, mas gosto muito da Bia, gosto mesmo. Olha, o Leo anda saindo com umas mulheres estranhas. Loiras demais, roupas de menos. Eu não sei, eu sempre acabo no bolso da calça, ou debaixo do armário, mas acho que ele ta traindo ela.
- Pois é mano, a Bia acha também .. ela comentou com uma amiga outro dia, falou que ia fazer umas gambiarras em você pra gravar tudo .. você se sentiu diferente atualmente?
- Então foi isso! Senti um embrulho no sistema central outro dia, ficou estranho por um tempo, depois passou ... deve ter sido isso.
- Opa, peraí! Recebi um arquivo aqui!
O BlackBerry acessa seus dados – olha só, a Bia conseguiu tudo ! E ainda programou pra mandar pra mim! Assim que ela me abrir vai descobrir. Sabe companheiro, se eles terminarem a gente não vai bater papo mais, não vai ser legal. Eles são um casal bonito, não devem ser atrapalhados por uma bobagem dessas.
- Apoiado! Não quero perder sua companhia também, é bom ter alguém do mesmo modelo pra conversar, sabe? E se você deletar o arquivo, talvez ela nunca descubra...
- Talvez...
- E aí?
- Ok, deletando... deletado !
- Isso aí parceiro, longa vida a nossa amizade!

Moral da história : Não confie em ninguém, muito menos em celulares modernos.
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Refalsear

terça-feira, 22 de junho de 2010


Deazo e Bepina, amantes de longa data, o mais egraçado e a mais bela. Deazo sempre levantava cedo para acordar os amigos, divertia-os com piadas, saia para brincar na lama com os porquinhos mais jovens, encontrava Bepina, namorava um pouco e, cansado, deitava-se muito cedo.
-Querida, querida, posso te contar uma piada?
-Deazo... de novo? Ah... claro, conta suas piadas...
-O que dá do cruzamento de um pão, um queijo e um macaco?
-É para respon..
-Não sabe amor? Um X-panzé! HSKOROOKHASKOROOOOK Entendeu? Entendeu?? E essa, amor, e essa: Por que o galo canta de olhos fechados?? - Bepina faz cara de interessada, mas não responde- Por que ele já sabe a letra DE COOOOR! HSKOROOKHASKOROOOOK Outra, Bep, outra: Por que o jacaré tirou o jacarezinho da escola??? Porque ele réptil de ano. HSKOROOKHASKOROOOOK
Depois de 57 piadas, Deazo se cansou e foi dormir. Bepina, entediadíssima e chateada com a situação, foi para o pasto olhar as estrelas. Tipozzi, o casanova da lama, passava por perto e não podia perder a opotunidade:
-O que faz um rosa bela como essa tão longe do seu jardim?
Bep reconheceu facilmente a voz de Tipozzi, era insuportável para suas orelhas.
-Estou esperando a nave mãe.
Apesar das respostas secas da porquinha, Tipozzi conseguiu conduzir uma conversa agradável, de fato nascera com o dom. No dia seguinte, após ouvir mais piadas, Bepina repetiu a dose da noite anterior e, como já imaginava, não era a nave mãe que a aguardava. Bepina adquiriu um novo hábito e um novo amor.
Semanas se passaram e o piadista finalmente começa a desconfiar do romance: olhadelas, risadinhas e sumiços inexplicáveis. Certa noite decide seguir sua amada ao invés de ir repousar. Ao chegar no pasto suas suspeitas são confirmadas. Surpreendentemente ele apenas se vira e volta pra casa. Tipozzi pôde aproveitar sua última noite com Bepina, a ração estava envenenada.

Moral da história: Não cobice a fêmea do próximo.
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Florzinha e o daltonismo

segunda-feira, 21 de junho de 2010


Carlos estava andando pela fazenda de seu pai... Observando as galinhas brigando pelo milho, os cavalos correndo... Quando resolveu dar uma volta no pasto. Chegando lá... havia uma vaquinha que chamava muito sua atenção. Ela ficava olhando-o. Quer dizer, Toda vaquinha olha meio de lado pra você, porque seu olho fica de lado no corpo... Mas ainda assim, Carlos achava que o animal o fitava sem parar. Como nosso protagonista era alguém muito valente... E, também, porque não faz sentido ter medo de vaca, Carlos chegou mais perto... para verificar se a vaca realmente o fitava tanto.

Acontece que o olhar ficou mais evidente... E Carlos começou a sentir uma pontadinha de medo. Sabe, aquelas remexidinhas na barriga da gente? Como se a gente fosse caindo de uma ladeira... Ou estivesse num elevador, que começou a descer sem avisar? Pois é... E o mais estranho é que a Vaca também se aproximava de Carlos... Se aproximava, aproximava, aproximava e...

- Ai! Porque você está comendo minha Blusa?! Sai daqui, vaca feia!
- Hum... -As vacas são animais muito reticentes... Percebe-se pelo andar lento, estão sempre mastigando devagar, digerindo devagar... vivendo devagar- Sua roupa?... Ah... me desculpe... mas é que você se vestiu de capim... Eu acabei não resistindo... Parecida tão apetitoso!
- Capim? Mas essa blusa minha é Rosa!!! Como você pode confundir com capim? Aiai... Que vaca esquisita!
- Meu nome não é vaca... é Florzinha... Mas é que essa blusa sua não parece rosa... Parece... hmmmmmm!!!... Capim... é... Capim...

Carlos olhava maravilhado para a cena
-Eu nunca tinha visto um animal daltônico em toda a minha vida!!! Que legal!! E é uma fêmea ainda! Quer dizer... Todo mundo sabe que mulher daltônica é muito mais difícil de acontecer do que um homem daltônico, né? Mas uma vaca?! Que legal!!!
-hum?... - respondeu florzinha, confusa, durante a tagarelice de Carlos
- Deixa eu te explicar - seguiu Carlos - As cores deveriam ser de um jeito pra todo mundo... Mas tem gente que enxerga algumas cores trocadas e... Olha... Não é nada demais, Florzinha. Eu conheço um centro de apoio ao daltônico lá na cidade e eles vão te ensinar as cores certas e as erradas...

Florzinha, preocupada com sua visão... Como será que ela começava a dar problema tão cedo? Sua avó, Mimosa, só começou a enxergar meio estranho depois dos 15 anos... Mas trocar cores? Isso pra ela era muuuuuuuuuuito novo. Portanto, aceitou a ajuda de seu novo amigo Carlos.

Chegando no CAD, Carlos e Florzinha foram direto falar com Márcio, o diretor do centro... Que estava curioso de o porquê de uma vaquinha, tão lerdinha, resolver ir até a cidade.

- Pois Não? - Disse Márcio.
- Bom dia! Queria que o senhor ajudasse minha amiga Florzinha... Ela tem um sério problema de daltonismo... Veja só! Confunde verde com rosa! - Florzinha achou que seu problema fosse ainda mais grave.
- Verde com rosa? Vejo que ela não encontraria problemas num desfile da Mangueira, não é? - Brincou Márcio - Mas... Deixando as brincadeiras de lado... Interessante! Já são raras as fêmeas daltônicas... Quanto mais as fêmeas, vacas, e com um daltonismo tão raro! Vejamos... Para ajudar sua amiga... É Florzinha, senhorita?
- Sim... Florzinha... (respondeu a vaca)
- Pois bem... Para ajudar a Florzinha a reconhecer as coisas, mesmo com a deficiência, ela teria de ficar aqui no centro por uma semana... Tudo bem?
- Pergunte para ela... - Disse Carlos. Florzinha foi respondendo:
- Bom... Se é para... conseguir... como se fala?... ver direito... Tudo bem...
- Então está feito! Carlos... Volte daqui a uma semana. Está bem?
- Aham! Está bem sim... Obrigado doutor...
- De nada - Disse Márcio, quando Carlos já estava indo embora- maaaas... Uma última pergunta!
- Diga! - disse Carlos, voltando-se para o doutor.
- Por que você amarrou capim no seu corpo todo?

Moral da fábula: A visão distorcida nem sempre é a do outro.

(me permiti mais linhas... Por dois motivos... eu coloquei o limite de 40 brincando... porque as fábulas são grandes =D e também porque diálogos não ocupam todo o espaço horizontal de uma linha... a regra é clara!)
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Evidência

domingo, 20 de junho de 2010


Querido diário,

Hoje é o grande dia! Vou me encontrar com aquela linda mulher sobre a qual venho escrevendo incansavelmente. Não me parece o suficiente dizer apenas uma vez como ela é bonita, simpática, e além de tudo uma moça direita. É cobiçada por muitos, isso é verdade. Mas talvez isso não me atrapalhe. Ora, se entre tantos ela foi dar bola justamente pra mim! Devo ter algo que a atraiu, algum charme especial que nunca descobri! Nem nenhuma garota, se quer saber. Mas ela sim, ela viu algo em mim, em mim! Eu, que sempre fui louco por ela! Devo estar sonhando mesmo. Bom, não ligo. Tudo o que importa é que hoje terei a chance de passar uma tarde inteira no parque ao lado daquela graciosidade. Preciso pensar em alguma coisa para surpreendê-la. Do que as mulheres gostam? Vou perguntar pra mamãe. Um minutinho. Ela disse que se eu der uma flor não tem como errar. Interessante isso, gostar de uma coisa que se pode catar em qualquer jardim, e que vai morrer logo. Vai entender. Tudo bem, confio em mamãe. Chegando lá acho que vou comprar alguma outra coisa pra ela. Um sorvete, quem sabe. Hoje é domingo, será que o parque vai estar muito cheio? Não me importaria, só não queria que aquele maluco do João estivesse lá. O cara é conhecido por ser meio estranho, sempre arruma confusão por aí. Ele olha pra Juliana de um jeito, parecendo que ela é um pedaço de carne ou algo do tipo. E ainda acha que é meu amigo! Vai ser muito inconveniente se ele estiver por lá. Mas bem, o que um inofensivo doido poderia fazer? O importante hoje somos eu e ela. E mais nada. Opa, chegou minha hora. Vou só passar um perfume e vou pra praça encontrar Juliana. Me deseje sorte!

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Do vermelho para a eternidade

sábado, 19 de junho de 2010


Juliana acordou com frio, e puxou as cobertas para si. Ficou nessa sensação de aconchego por poucos segundos, até dar-se conta de qual dia aquele se tratava: Domingo!
Domingo era o dia em que ela se encontraria com João, aquele da obra a dois quarteirões de sua casa. Moço direito e respeitador.

Levantou-se com um sorriso estampado no rosto, afastando os cabelos negros e compridos do rosto. Olhou de relance para seu criado mudo, que amparava uma carta amarelada: Carta de José, da feira, que se declarou à moça uma semana atrás. Pobre José.. Juliana nunca corresponderia ao seu amor doentio. Magrelo, desproporcional, olheiras fundas e aquele jeito de maníaco.. esse era o Zé da feira. De qualquer forma, guardou a carta consigo, ainda que com medo de alguma reação paranoica do coitado.
Balançou a cabeça para esquecer daquilo tudo, enquanto ia à cozinha. Bebeu um café apressado e comeu um pedaço de bolo, já pensando em qual roupa usaria. Saiu de casa linda como sempre, em um vestido rosa que a mãe lhe dera um ano atrás.

No parque, com João, tudo são flores. Literalmente, pois João trouxe a ela uma linda rosa vermelha, que ela carregava maravilhada com uma mão, enquanto a outra segurava a do amado. Como alguém tão forte, tão robusto, tão másculo como João, poderia ter tamanha sensibilidade para encantar uma mulher? Ela não sabia de que forma, só tinha a certeza que ele acertava em tudo: Comprou à moça um sorvete de morango, que ela agora desfrutava, emocionada.

A única coisa que poderia estragar essa atmosfera era um conjunto de gritos disformes que vinham do lado oposto do parque, mas esses gritos estavam tão distantes.. não mereciam atenção..
Juliana lançava olhares de admiração ao homem que a conduzia, até que os gritos, que pareciam tão insignificantes, engrossaram. A moça resolveu olhar, de curiosidade: Um homem agora se destacava da multidão e dava passadas largas em direção ao casal, segurando uma faca enorme e com os dentes cerrados.

"OLHA A FACA!"

A moça franziu o cenho, e lançou um olhar de incompreensão a seu amado. Este olhava fixamente para a frente, em um misto de ansiedade e nervosismo; ele percebia a mesma coisa que ela: Aquele não era homem qualquer, era José. Era ele, o feirista, com uma expressão medonha em sua face, tremendo a mão que segurava a faca, tamanha era a sua raiva.
Ninguém parou o homem armado, a multidão gritava ensandecida. Juliana soltou a rosa e o sorvete no chão, agora com medo do que aconteceria. Toda o sentimento de proteção que ela sentia ao lado de João despedaçou-se quando José, sem qualquer resistência do casal atordoado, desferiu vários golpes rápidos no peito do pedreiro. A incredulidade de João naquela situação anulou suas habilidades de capoeira, enquanto ele caía com um baque surdo no chão, ensanguentado e agonizante.
Juliana estava aterrorizada. Seu braço esquerdo era puro vermelho, seu vestido rosa estava manchado de vermelho, o chão era vermelho, o próprio Zé tinha o rosto espirrado de vermelho enquanto se virava para ela. Juliana olhou uma última vez à rosa e ao sorvete derretendo no chão ao seu lado, e tentou se proteger com as mãos, em vão. Dores agudas pipocaram de seu peito, de sua barriga, de seu corpo. Ela podia sentir o líquido quente fluindo por sua pele, e ver com dificuldade o brilho metálico que se destacava do vermelho e passava com velocidade por ela.

Não sentia mais nada, nenhuma dor quando atingiu o solo. Seu último pensamento foi deixar para trás todo aquele vermelho assustador, e ir em direção à eternidade.
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Razão e Sensibilidade

sexta-feira, 18 de junho de 2010


-Senhor José Vieira e Souza?


-Sinhora!

-Sente-se, por favor. O meu nome é Denise Monteiro, serei sua advogada na defesa da acusação de homicídio duplo que o senhor recebeu em...deixe-me ver aqui...treze de junho de dois mil e dez, certo?O senhor trouxe o protocolo de requisição da Defensoria Pública?

-S-sim...

-Vejamos então os documentos do processo.Bom, a conduta obteve muitas testemunhas,totalmente impune o senhor não ficará, mas nossa estratégia será de buscar o maior número de elementos que diminuam ou atenuem sua pena, até ela virar uma pequena de regime semiaberto ou algo semelhante.Aí o senhor..

-Senhora pode me chamar de você?Inda nem fiz vinte e três!

-Então, com regime semiaberto você pode trabalhar, estudar, etc,não deve poder continuar na feira, mas não vai ficar o dia inteiro na prisão.Deixa eu dar uma olhada nesses papeis.... ah, ótimo!Os antecedentes criminais de uma das vítimas é muito favorecedor, lesão corporal, tentativa de lesão, envolvimentos em tumultos...aham, vou colocar caráter de vítima como atenuante de pena,João era causador de confusões e te provocou , só por isso você fez o que fez..hum..artigo sessenta e cinco, inciso..

-Mas...

-Dois.E o três.Isso.Do rapaz não dá pra tirar mais nada além disso, e da moça eu vou ter que combinar com você.Ah!Lembre-se: a faca é da sua sacola de feira, alguns clientes te pediam para comprar metade de melancias e mamões, e você a carregava por causa disso, senão vair dar a maior complicação o fato de você já andar armado,ok?Voltemos à moça. Algumas pessoas já ouvidas no inquérito disseram que você e ela já tinham se separado há mais de dois meses, certo?Isso será importante porque desconfigura a relação de estabilidade que vocês mantinham desde dois mil e três..

- e um

- o que a faz deixar de ser sua parceira e impede a aplicação de agravante em crimes contra cônjuge.O ponto dois vai ser a quebra da relação..hum...alegaremos, ah!Violenta emoção, claro!Cometimento de ato injusto da vítima por ter lhe deixado esperanças por meio de cartas- traga todas as cartas que ela já te mandou na próxima vez que vier

-mas...

-E ela ficou com seu melhor amigo...hum...me..lhor...a..mi...go....artigo sessenta e cinco também...não!Diminuição no parágrafo primeiro do cento e vinte um, vai reduzir muito mais a pena, quem sabe até uns seis anos mais prestação de serviço comunitário!O réu foi pego de surpresa por ato injusto..arma branca direcionada a outros fins...

-Doutora..

-Só um momento, José, já estou terminando de escrever.Vai ficar jóia.Você é réu primário...vai dar para usar isso também, você não queria fazer isso...oh!Acha que consegue chorar assim se for colocado para depor?Jurado sempre se sensibiliza quando vê um homão assim chorando, ainda mais em crime passional.Vamos requerer o depoimento de sua família sobre o relacionamento com a moça...hum...amigo agiu de má-fé e com dissimulação por ter dito a todos que fazia capoeira no horário em que foi encontrado no parque com a ex-namorada próxima do réu...isso. Tem mais algum elemento importante da cena que não está no inquérito, José?

-Doutora..deixa eu te falar..a Ju era minha namorada sim, dá pra negar isso não.Meu amor. Ela tinha me dado um tempo mesmo, mas no sábado ela me fez a maior surpresa,me esperou na feira, a gente passou o dia dos namorados todo junto, a gente prometeu que num ia mais brigar, e ela me jurou que nunca mais ia chegar tarde em casa sem avisar.Eu té parei de beber..

- Você se importa se eu gravar a sua fala para posteriormente retirarmos os elementos úteis posteriormente?Apago logo depois, antes de você sair.

-Tá, doutora.E eu nem bebi no sábado, nem uma pinguinha, ju não gosta de bafo, levei ela pra casa comigo e só.E ela saiu de fininho no domingo, deixou um bilhete todo perfumado falando que ia visitar a tia no hospital,e eu saí todo abobado para trabalhar, o perfume era de morango com certeza, aí depois eu até animei de passar no parque pra arear a cabeça, lembrar o sábado.ela foi comigo lá no sábado doutora, comigo, e a gente tomou sorvete, comprei um buquê todinho de rosas pra ela umas rosas vermelhinhas, igual a bochecha dela, igual ao sorvete de morango dela, o preferido, o meu preferido, aquela desgraçada!

-José, acalme-se por favor.

-João nem gosta de sorvete!Nem de morangos!Aposto que aquela rosa era uma das que eu dei pra ela, maldita, e ela toda levadinha!TIA DOENTE UMA OVA!Ela não cansou foi de me trair,ver essa cara de otário todo dia amando ela, GASTANDO UMA PUTA GRANA POR CAUSA DELA, PRA ELA SAIR COM AQUELE FILHO DA PUTA!CAPOEIRA, CLARO!NÃO BASTAVA ELE PEGAR TODAS AS MUIÉ DO BAIRRO NÃO!TINHA QUE SER A MINHA!TUDO QUE É MEU, O MEU GOSTO,MINHA ROSA, MINHA JU!SENÃO NÃO TEM GRAÇA!

-Senhor, contenha-se!!

-MATEI SIM, DOTORA!MATEEEI MATEEI E MATAVA DE NOVO!E DE NOVO E ENFIAVA A ROSA NAQUELE DESGRAÇADO LADRÃO ENCRENQUEIRO!MAS AGORA JÁ ERA!OS DOIS ESTÃO MORTOS, DURIIINHOS!NINGUÉM VAI ME ENGANAR MAIS NÃO!POSSO ATÉ SER PRESO, MAS NUM É MINHA CARNE QUE AS FORMIGAS VÃO COMER NÃO!AHAHAHAHAHAHAHAHA!BEM FEEEEEITO!BEM FEEEEEITO!

-Senhor José, volte aqui!Ainda não terminamos a análise do processo!

-TEM SORVETE AÍ NO CÉU, JU?AHAHAHAHAHAHAHAHAHA!NINGUÉM MAIS VAI ME ENGANAR, EU SOU UM PRESO LIIIIVRE!LIIIVREEE!AHAHAHAHAHAHAAHAHAHAHAAHA!

-Alô, Reginaldo?Contacte imediatamente a segurança fazendo favor, tentativa de fuga de preso preventivo no terceiro andar.
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Quebra de rotina

quarta-feira, 16 de junho de 2010


Ah não! Mais uma manhã de domingo, mais famílias e casais felizes nesse parque.
Cansei dessa vida, cansei!
Eu aqui, imóvel, vendo tudo isso acontecer durante anos! Cada domingo é uma família nova que vai, outra que vem, um casal novo que se apaixona, outro que briga.
E o que eu faço nisso tudo?! NADA. Fico aqui, no meu lugar, às vezes sendo sentado pelas pessoas. Não, não, não, não quero mais! Chega de rotina, chegaaa!
(Cinco minutos depois)
Tudo bem, sou um reles banco. Sei que sou. Não nasci pra fazer nada alem de ter glúteos apoiados em mim e ver o tempo passar. Afinal, não é isso o que faço sempre?
EEEI NÃO SENTE ASSIM EM MIM!
Esse senhor... Sempre por aqui. Sempre olhando aquela moça bonita. Ela é realmente bonita, todos os outros senhores a olham também, mesmo que tenham companhia.
Será que ele nunca irá lá falar com ela? MUDA ESSA ROTINA FILHO! Para de olhar e faz alguma coisa! Sabe o que eu faria se estivesse no seu lugar? Sabe o que eu faria se pudesse me mover?
Olha... Acho que ela está acompanhada. Está, está sim. Xii... o colega se deu mal. Também, ficou aí só olhando, sem fazer nada! Ai se eu pudesse fazer algo além de olhar... ai se eu pudesse! O namorado novo dela parece ser um cara legal. É bonito. Acho que eles vão dar certo juntos.
EEEI NÃO ME APERTA! Ih, acho que ele viu o namorado novo dela. Acho que ele não tá feliz. Calma colega, calma! Você vai apaixonar por outra. ... calma!
EEEI NÃO LEVANTA ASSIM TAMBÉM NÃO! Essa vida de banco não é fácil, tá? Não sai sentando e levantando assim não!
Ih, olha lá, acho que ele vai falar com ela. Finalmente uma atitude. Avante companheiro! Isso mesmo! Vai lá!
OPAAA! Pra que a faca? Pra que? Fica bonzinho colega, era pra ser uma discussão, não uma agressão. Era não, vai ser. NÉ? NÉÉ? NÃO, NÃO, NÃO, NÃO! Não faz isso não!
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHH!
Gente, quanto sangue! Ui... Não deixo mais esse cara sentar em mim não. Olha o que ele fez! Não! Alguém tira ele daqui, alguém leva ele embora. Ele matou os dois!
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AMANTES ASSASSINADOS NO PARQUE

terça-feira, 15 de junho de 2010


Na última manhã de Domingo, dia 07 de Novembro, no Parque da Boca, Jõao Antônio Pereira e Juliana Batista Assumpção foram esfaquiados até a morte por José Manuel da Silva. Testemunhas e amigos dos envolvidos, afirmaram que José era o melhor amigo de Jõao, namorado de Juliana. Manuel não sabia da relação dos dois e, como amava a moça, não suportou a dor de a ver com outro. Nossa equipe conseguiu um depoimento exclusivo de Anne Marizette, grande amiga dos mortos. Segundo ela, o casal de namorados chegou cedo ao parque para aproveitar a manhã de domingo, logo depois José chegou e os viu. Irado com a cena, tirou a faca do bolso e começou a andar na direção dos dois. Não demorou até que as pessoas percebessem o que estava acontecendo, alguém gritou “OLHA A FACA”, mas os amantes não tiveram tempo de reagir, primeiro foi ela, logo em seguida, o rapaz. Caíram os dois mortos no chão. José ficou parado olhando para suas mãos sujas de sangue e para a rosa na mão de Juliana. Os policiais chegaram e algemaram Manuel, que foi encaminhado para a delegacia. Hoje ele aguarda o julgamento e está tendo acompanhamento psicológico.
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Sem brincadeira, nem confusão...

segunda-feira, 14 de junho de 2010


Ahh... adoro os domingos de folga! Posso vir para o parque passear e, quem sabe, ter a sorte de ver a minha amada... O quê? Não me olhe assim! Eu sei que é um amor platônico, mas Juliana há de ser minha um dia... Já sei! vou dar uma volta nos brinquedos mais modernos do parque... Lá fica mais movimentado... Quem sabe não encontro a minha amada?!

Aiai... Adoro ver essas crianças correndo pra lá e pra cá, com seus algodões-doce, seus pais felizes. Tomara que minha família seja bonita, assim como essas que passeiam no parque. Mas, se tudo ocorrer como sonho, não tem como não ser assim... Eu tenho um Espírito brincalhão... estou sempre aí, fazendo uma piada, uma brincadeira com alguém! Já fui chamado de tudo, menos de ranzinza! Mas agora... A minha amada... Ah! Essa é doce, linda e amorosa, não teria como não formarmos uma família feliz com nossos filhos.

E por falar nela! Meu instinto me dizia que ela estaria aqui... Ou talvez seja o cupido que tenha me contado! Bela como nunca! Com seu sorriso lindo de duas covinhas... Que bom que ela está feliz!
Hehe... Quem me vê neste momento, deve achar que sou um tolo, pois fico olhando, bobo, com a cabeça meio tortinha assim... Suspirando fundo... ah!... Apenas admirando "a vista". Ela está linda! Com seu vestido rosa, um sorvete em sua mão direita e uma rosa, na esquerda...

Calma aí... Porque ela segura uma rosa? Meu Deus! Há um homem com minha amada Juliana! Um homem robusto... Com cara de forte, uma beleza rústica... Não! Será? Mas era para ele estar na construção a essa hora! Não! Ele está jogando capoeira com seus amigos no ribeirão! Lá mesmo perto da feira onde trabalho! Tenho certeza... Só posso estar variando... Pisco o olho forte... Umas três vezes!!! Nada de não ser ele! Nada de enchergar o homem que realmente está com Juliana! Só vejo o meu amigo... Minha cabeça rodava com a roda-gigante, como se estivesse zonzo... Não pode ser! Ele é tão brigão! Não poderia dar uma rosa a Juliana! Uma rosa vermelha!!! Não poderia estar girando com ela nessa roda gigante... NO MEU LUGAR!!! Não poderia ter dado este sorvete, vermelho, de morango para ela!! O SORVETE É DOCE!! NÃO É COMO ELE! O PATIFE NÃO PODE ME ROUBAR A DOCE JULIANA!! Eu não posso permitir... Não alguem tão próximo a mim! Não alguém a quem sempre quis tão bem! Ele não pode me passar a perna!!

De repente, minha mente não gira mais... Estava tudo focado nos dois. Como podiam me enganar?! Pareceu que o parque não era mais o mesmo. Tentei desviar a atenção dos dois... Mas parecia que todos a minha volta compreendiam minha dor! O parque inteiro sentia o que eu sentia!!! Todos corriam desesperados! As crianças choravam... Nenhum brinquedo funcionava... Escutei um "olha a faca!" Ao longe, mas eu não enchergava nada, além daquela traição... me apunharam pelas costas durante sei lá quanto tempo! Me apunhalaram... apunhalaram... Queria sentir todo aquele vermelho-vivo do amor dos dois passando pelo meu corpo!! Uma dose daquela vida feliz! Outro grito... Mais conhecido, Era meu nome "José!! Não!! JOSÉ!"... não prestava atenção... Se eu pudesse tomar o vermelho de Juliana pra mim! Mas estava de mãos atadas... Olhei pra elas. Me sentia um inútil... O quê?!!? SANGUE?! Uma faca nas MINHAS MÃOS?!!? João, meu amigo!! Morto! Não!!! não é possível... Onde está... NÃO!!! JULIANA!!! JULIANA!!! "JULIANAAAAAAAAAAAAAAA!!!!"

Bom gente... Esse é meu pimp da história que todo mundo deve conhecer...
até segunda que vem!
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domingo, 13 de junho de 2010


Seu nome era João Pinto da Silva. Por causa desse nome, desde a infância era ridicularizado pelos coleguinhas. A maioria dos Joãos vinha com um nome normal depois do primeiro, formando um nome composto. João Felipe, João Luís, João Marcos. O dele não tinha sido pensado assim. Era só João. Mas os colegas insistiam que aquilo era um nome composto, João Pinto. E o chamavam da segunda parte, para distingui-lo dentre seus xarás. E cresceu sendo chamado assim: “Pinto”, “pintinho”, “João Bilau”, dentre outros. Era um horror. Como naquela época não existia o conceito de “Bulling”, não havia muito que se podia fazer.

Pinto cresceu assim. Tinha ódio mortal daquele nome que não impunha respeito nenhum. Não tinha como ser o valentão do colégio, aquele do qual todos morriam de medo, mesmo com sua grande estatura e puberdade prematura. Que criança respeitaria um valentão chamado de Bilau? Tenha dó.

Infância e adolescência conturbadas contribuíram para que João entrasse na fase adulta sem muita confiança em si mesmo. Aconteceu que começou sua vida profissional como atendente de telemarketing.

Antes de chegar ao trabalho no seu primeiro dia, João decidiu que daria um basta em sua vida de opressão pessoal. Seria um novo João Pinto. Imporia respeito. Todos no trabalho iriam temê-lo.

Entrou em sua nova sala com andar imponente. Olhava para cada um dos outros atendentes com olhar ameaçador, que tinha praticado no espelho. As pessoas rapidamente olhavam para baixo, e evitavam encará-lo de volta. Sentou-se em seu gabinete e começou a telefonar, sendo curto e grosso com os almejados clientes, em alto e bom tom para todos ouvirem. Estabeleceu barreiras pessoais, dizendo para qualquer colega que viesse puxar papo para tomar cuidado, “Você sabe com quem está falando?”. A pessoa logo hesitava, pedia desculpas e ia embora. Não admitia filas para banheiros ou bebedouros, alertando que era melhor que todos ficassem espertos com a maneira como o tratavam.

Sua fama logo se espalhou. Toda a empresa o conhecia como o cara durão, e temiam-no. Boatos se espalhavam, e João ia de policial disfarçado do Bope até integrante da máfia italiana. Ele, vendo o medo que causava nas pessoas, se sentia invencível e respeitado, como sempre quis. Então cuidava de tratar todos com ainda mais aspereza. E os boatos se fortaleciam, já não mais ficando só dentro da empresa. Logo toda a cidade o temia.

Até que um dia, quando João estava sentado em seu gabinete, orgulhoso de sua reputação, chegou um homem encapuzado e deu dois tiros em sua cabeça. João, obviamente, caiu morto na hora. O crime foi investigado e chegou-se à conclusão de que muitos pensavam que João Pinto era uma ameaça, então não havia como chegar ao culpado.

Pelo menos, uma certeza nós temos: Pinto morreu feliz, com o orgulho de não ter se deixado amolecer mais.

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Dia do(s) namorado(s)

sábado, 12 de junho de 2010


Véspera do dia dos namorados, e ainda não sei o que vou dar pra Lu. Ótimo. Dois anos de namoro e eu não tenho nem ideia do que ela gostaria de ganhar.

Deitado na minha cama às 19:00 de sexta feira, abraçado aos travesseiros, divago: Quem sabe eu poderia dar a ela o esmalte verde-tendência que ela tinha babado na unha da Gabi, semana passada? Não, descartado. Quem é que dá uma coisa barata que nem esmalte numa data dessas? Eu, não.
Ou talvez aquela echarpe fúcsia da minha mãe que caiu tão bem nela, valorizou o pescoço e é hit do inverno.. Não, do jeito que ela é, pode ter dito que gostou só pra agradar a mamãe. Depois vai ficar com a echarpe encostada no armário dela, pegando traça, o que ela sempre faz.
E a bota 3/4 que ela anda sonhando.. não, infelizmente não posso me dar ao luxo de gastar 500,00 num presente, nem que seja pra Lu.

Me levanto com rapidez e jogo os travesseiros de volta pra cama, num movimento ressentido. Ô mulherzinha difícil da gente arrumar presente! Aliás, se tratando da Lu, não é só de arrumar presente, ela é difícil de convencer, difícil de entender, difícil de conviver. Resumindo, uma mulher difícil. Ainda assim, minha namorada.
Passo pela cozinha impaciente, agarro as chaves do carro e dirijo ao shopping. Não é possível que no paraíso capitalista eu não acharia nada que servisse pra moça. Essa era a cartada final.

Depois de toda a burocracia urbana (pegar ticket estacionamento, achar vaga, ligar alarme, subir N andares), me vejo no epicentro fashion. Tantas opções, tantas cores, tantos preços juntos... e nada me agradava. Na loja de lingeries, não imaginei a Lu usando nenhum dos acessórios; Na loja de eletrônicos, não consegui achar nada que ela fosse gostar; Na livraria, e essa mulher lê alguma coisa??
Já estava quase desistindo e fazendo um cartão com chocolatinho pra ela, olha que romântico, quando vi a esperança final. A loja de um antigo amigo meu de colégio, o Matheusinho. O cara montou o negócio assim que saiu do terceiro ano, começou pequenininho que só a gente via, prosperou, e hoje é administrador de uma grife feminina extremamente bem sucedida. Perdemos contato desde então.

Entrei à procura de algumas opções, mas o que encontrei ali foi apenas uma certeza: O Matheus estava mais lindo do que sempre esteve: Cabelos lisos, pretos como eu nunca vi, crescidos e jogados de lado. Olhos verdes que a gente tinha até vontade de se encolher ao encarar. Terno elegante, arrematado com um lenço no bolso. Barba por fazer, e o inegável ar de maturidade que ganhou com o tempo. Nesse instante, percebi que eu deveria estar agindo muito estranho olhando fixamente para ele, mas pelo modo que retribuiu o olhar, entendi que ele me reconheceu e se aproximaria.

Ok, assumo de uma vez por todas: Matheus foi um antigo caso meu no colégio.. mas essa época PASSOU, PASSOU, foi um período conturbado e eu não lembro dele mais, nem dele e nem de ninguém, eu não gosto nem um pouquinho de caras, imagina se minha mãe soubesse, eu namoro é a Lu! A Lu! A Lu é linda e maravilhosa e é minha namorado, digo, namorada!

Confuso, dei meia volta e não esperei o cumprimento de Matheus, que agora sorria. Voltei à loja de lingeries e saí de lá com uma sacola rosa de presente.
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Servantes


Meliza era uma mulher valente, bióloga recém formada, amante das tartarugas desde muito jovem. Nascida em Rio Acima, viveu por muitos anos isolada nos montes mineiros, mas foi em uma viagem ao litoral com seus colegas de escola que se descobriu.
Apaixonou-se pelo jeito manhoso dos nativos, pela água quente e azul, e pela idéia politicamente correta de vida sustentável. Ser ecologicamente consciente estava na moda e combinaria muito bem com seu estilo “hiponga”. Teve convicção de que seu destino era abandonar sua vida na Grande BH e criar uma nova em Trindade. A crise dos vinte anos se aproximava. Aquela seria uma atitude ousada o suficiente para fazer jus à fase que passava.
Quando desfazia as malas, reorganizava sua coleção de postais sentiu necessidade de conversar. Mel sempre foi comunicativa, a mais das quatro irmãs. Sempre viveu com cinco amigos pendurados no pescoço, mas agora morava sozinha em uma ilha de desconhecidos. Teve medo, quase ficou triste. Safa como sempre foi, decidiu matar saudade em um dos milhares de sites de relacionamento ao qual fazia parte. Foi assim que tudo começou.
Horas e mais horas que antes seriam gastas com o aprofundamento no estudo do habitat marinho, passaram a ser utilizadas em outros tipos de pesquisa. Estas não exatamente colaboram com o desenvolvimento científico, mas expressam uma característica marcante de Meliza Servantes: a curiosidade enrustida. Começou fuçando profiles de Orkut, depois googling colegas e amigos, depois amigos dos colegas e amigos. Blogs, Forms, dedicatórias em trabalhos de mestrado, entrevistas a programas esportivos; qualquer informação era útil. Tornou-se referência, ou fonte de informação. Conhecia alguns desconhecidos melhor do que Inteligência brasileira jamais seria capaz de conhecer. Em momentos de distração se entregava: “Ahhh, aquele rapaz da outra turma! Sei quem é. O pai dele trabalhou na Colômbia e foi transferido pra uma área controlada pelas Farc. Eles foram ameaçados de morte e voltaram pra casa”. “Como você sabe disso?” perguntariam assombrados e como sempre responderia “ELES” – “Alguém me contou, mas não lembro quem”.
Mel tinha muitos talentos: exímia nadadora, fantástica doceira, super habilidosa em trabalhos manuais e ainda era detetive nas horas vagas.
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Os fios do bigode.

sexta-feira, 11 de junho de 2010



  Se o atual Presidente do Senado, José Sarney, tem como lema particular a frase “Bem ou mal, falem de mim”, provavelmente é o político bilionário mais satisfeito do país. Em meio a tanta baderna ideológica e corrupção vividas no Brasil dos últimos três anos, Sarney tem o privilégio de ocupar, todas as semanas, o topo do ranking Celebridades Mais Detestadas Por Adultos E Adolescentes Brasileiros.

  O motivo desse disseminado ódio é causado pela consolidação do Império Sarney do Norte, divisão brasileira que abrange o Maranhão e o Amapá e tem adquirido tamanha força política a ponto de possuir um poder Executivo praticamente autônomo. A família Sarney, nestes dois estados, além de controlar o sistema administrativo e ser detentora dos mais importantes meios de comunicação (como o jornal Estado do Maranhão, a TV Mirante e as rádios Mirante AM e FM), ajuda os moradores a decorar rapidamente os nomes dos ambientes que freqüentam. Em São Luís, por exemplo, qualquer pessoa pode se dirigir ao Tribunal de Contas Roseana M. Sarney por meio da ponte José Sarney,avenida Presidente José Sarney e, depois, passar pela rodoviária Kyola Sarney. Isso ainda sem contar as dezenas de vilas,cidades ruas que carregam este maravilhoso sobrenome.

  Entretanto, o que mais toca as impecáveis moral e ética dos cidadãos brasileiros é a atitude do Presidente do Senado em relação aos meios de construir seu império. Desde cedo, ignorando a noção de mérito próprio como meio para atingir objetivos, José Sarney começou sua carreira como oficial de gabinete do governador Eugênio Bastos (papai que conseguiu) e, com 24 anos, já era o quarto suplente de deputado federal, apesar de nunca ter sido sequer vereador. Seu comportamento oportunamente nepotista foi crescendo ao longo do tempo e lhe rendeu diversos frutos assustadores, como a criação, em 2009, de 4000 vagas no Senado sem o pré-requisito de concurso como o meio de ingresso. Devido a aberrações como essa, o político até ganhou, na internet, o apelido carinhoso de Bigode Podre, em referência à imensidão de sujeira e pessoas incompetentes que esconde debaixo de seu bigodinho estilo Hitler Nordestino.

  Uma vergonha para nosso amado Brasil. Como é que alguém que nasceu num país tão correto e justo tem a petulância de tirar vantagem em detrimento de outrem?E , depois, ainda ser capaz de mentir para todo mundo?



  Bom, gente, a vida secreta que comentarei hoje não é propriamente a do Sarney, mas a de todos os brasileiros que criticam fervorosamente as figuras públicas comumente chamadas de “mau-caráter”, mas praticam pequenos atos corruptos todos os dias. Por trás de cada “Fora Sarney”, “Xô corrupção” ou “Queremos justiça!”, existe um cidadão que certamente já mentiu para um grande grupo,deu um jeito de passar a perna no Estado, já tentou ajeitar a situação para beneficiar um ente querido ou o fez em benefício próprio. Filho que junta dinheiro que a mãe dá para o almoço e compra um ingresso para show no fim do mês está desviando verba. Quem tira a maior parte do trabalho escolar do Google e finge que não fez nada de errado também é o maior cara-de-pau. E a furação de filas de banco?Sonegação de impostos?A compra de CDs e DVDs piratas?

  Fico impressionada de ver como não hesitamos em descer a lenha nessa “cambada de ladrão” da política e não paramos para pensar a quantidade de atos ilícitos que também cometemos, mesmo que em proporção menor. Possuímos uma vida cheia de mentiras, dissimulações, e pragmatismo e ainda tentamos escondê-las de todos, inclusive de nós mesmos. E dormimos bem, acreditando que a podridão só se concentra no Senado, no Palácio do Planalto, no Congresso, nas favelas, nas cadeias, nos Tribunais.

  Claro que os efeitos das ações de pessoas como o Sarney tem dimensões muito maiores e mais prejudiciais à sociedade do que alguns atos reprováveis que produzimos. Contudo, ainda sim me parece hipocrisia mostrar fúria tão veemente em relação ao mau-caráter alheio enquanto o tal “jeitinho brasileiro”,que todos temos e muitos de nós se orgulham, não é nada menos que um dos fios podres do bigode do Sarney: sujo.Indigno. Quando junto a outros, capaz de formar os mais expressivos escândalos de corrupção e roubo. E, por mais que possamos tentar retirá-lo de nós a cada instante que o percebemos, ele continua a crescer, insistentemente, bem debaixo de nosso nariz.





Fontes de informação:
Livro "Honoráveis Bandidos", de Palmério Dora
Aula de Teoria do Estado II- nov.2009
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Em dois empregos

quarta-feira, 9 de junho de 2010


Era uma vez um cara. Homem, 40 anos, trabalhador. Seu trabalho era bastante incomum: produzia suas própria revistinhas e as vendia no sinal. Você pode estar pensando: “Que isso! O cara rala pra fazer as revistinhas e vende no sinal, ninguém deve dar valor ao trabalho dele ” Que nada ! Seu jeito diferente de vender o torna bastante conhecido na cidade.
Anda por aí, com uma big placa amarela que divulga exatamente como é feito seu trabalho e o nome da edição que está sendo vendida. Porem, contudo, todavia, entretanto, descobri que falta uma informação nessa tal placa amarela.
Era uma quarta-feira de manha, exatamente 5:30 AM, e eu estava no ônibus que pego todos os dias para ir ao trabalho. Todos que estavam nele dormiam, tentando aproveitar os poucos minutos que os restavam antes do trabalho árduo. Eu não conseguira dormir aquele dia. Chegamos ao centro da cidade, e passamos em frente o Pirulito da Praça Sete. “Mas que estranho, tenho CERTEZA de que está faltando um pedaço! Ele não fica mais fininho na ponta? Ou será que todos esses anos tive essa ilusão? ” Resolvi me certificar e olhei novamente para o monumento. O que vi em seguida me encheu de pensamentos estranhos pelo resto do dia. Era um homem, eu já havia o visto antes. Era mais velho, um pouco. Mas ele voava! E o mais espantoso: trazia o complemento do Pirulito da Praça Sete na mão! Eu o observei, estupefato, e o vi colocar o pedaço do monumento em seu exato lugar, e ir embora, como se fizesse aquilo todos os dias.
“Não, devo estar ficando louco!” Meus companheiros de ônibus continuaram dormindo, sem sequer imaginar o que acabara de acontecer.
Chegando ao trabalho, agi normalmente, cumpri todas as minhas obrigações. Alguns amigos mais próximos comentaram que eu estava meio avoado. “Briguei com a patroa!” dizia. Não contaria nada a eles, me achariam louco! Mas a verdade é que a cena não me saía da cabeça.
No ônibus de volta pra casa, procurei encontrar outro acontecimento estranho. Nada.
“Será que eu dormi por um instante e sonhei com aquilo? Não pode ser!” Foi tão... real!
Os dias se passaram, e pouco a pouco fui esquecendo. Aceitei que provavelmente sonhara. Parei de pensar no assunto.
Na semana seguinte, sexta-feira, 18:30 PM, voltava do trabalho. Cansado mas feliz, pois teria folga no sábado. “Que saudade de descansar dois dias inteiros.”
Olhei pela janela, admirando a Praça Raul Soares e seu engarrafamento.
- OLHA A REVISTIINHA!
“Aquele cara da placa amarela de novo! Acho que vou comprar uma dessas pro meu menino, ele vai ficar feliz.”, pensei. Acenei para o vendedor, e tive a sensação de que o conhecia de algum lugar. Foi extremamente simpático comigo, desejei que vendesse muito. Quando olhei a capa, que susto! Era exatamente a cena de quarta-feira de manha, com apenas uma diferença: o herói que devolvia o pico do Pirulito era jovem, musculoso, e o que de fato o fizera era mais velho, e com um corpo mais modesto.
Será que o vendedor também tinha visto aquilo? Afinal, eu não era louco nem havia sonhado? Olhei para ele, a procura de uma resposta, e tudo que obtive foi um sorriso compreensivo, como um sorriso que lê seu pensamento.
Calma... “Agora tudo faz sentido! É ele! O vendedor é o herói! Realiza suas proezas e depois as conta em formas de resvistinha, fazendo do personagem jovem e másculo sua” Identidade secreta “ “
O procurei de novo, para retribui o sorriso e o dizer que seu segredo estaria a salvo comigo, mas lá estava ele, correndo entre os carros, vendendo seu produto.
“ Puxa, eu que acho meu trabalho difícil, imagina o desse cara ! Na placa dele devia é estar escrito: SUPER HERÓI EM DOIS EMPREGOS.”
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Coma amarelo com bolinhas roxas

terça-feira, 8 de junho de 2010


Volta e meia, pensamentos como "Imagina o professor de Gramática bebado... "O solteirão de Inglês tem vida?" "Como será que é minha professora de Física com os amigos?" ressoam em nossa mente desocupada de aluno do fundamental. Na maioria das vezes não nos damos o trabalho de prolongar o assunto, quando o fazemos, a única finalidade é a zombaria com os colegas de classe. Normalmente parte das historinhas se tornam pequenos boatos que logo são substituidos e, consequentemente, esquecidos.
Até hoje, conheci apenas um professor que fugiu desse padrão. Abílio era um homem altíssimo, magro, com uma barba lisa, longa e rala, cabelos pretos, beirando a calvice, pele clara e olhos estupidamente azuis. Usava sempre uma calça absurdamente estampada e uma blusa branca um pouco transparnte, permitindo a visão de uma espéce de mandala desenhada nas costas. Lecionava sentado de costas para a turma, escrevia tudo ao contrário, só passava a matéria se o o desenho do quadro lembrasse um triangulo, ocilava a voz costantemente e conduzia o rendimento da aula de acordo com o clima.
Era apenas um substituto, o que facilitou a propagação de histórias. Nas primeiras semanas a criatividade reinava, Abílio ia desde fugitivo da prisão até agente do FBI. Como nossa escola era muito monótona e o professor ultrapassava o limite do bizarro, nos acostumamos a inventar histórias novas toda semana.
Depois de semanas de chuva, tivemos uma quinta ensolarada, tempo pefeito para uma redação avaliativa. Resolvi, então, abusar da sorte: "A vida secreta de Abíio". Descrevi a vida de um alienigena que veio à Terra para desvendar os mistérios da Soja, único produto terrestre que os Gimusquinovanios desconheciam. Contei como ele havia possuído um corpo humano, desaparecido com Genália -professora do 8o ano- só para pegar seu emprego, como andavam suas pesquisas e ainda inventei uma opiniao sobre os terráquios. Tudo isso no formato de um diário de viagem.
No dia seguinte, quando cheguei ao colégio, estava tudo escuro, vazio e frio, cenário perfeito para eu pensar que estava sonhando e seguir até a sala do esquisito. Abri a porta e o encontrei com minha redação na mão. "Acha certo, Murilo, invadir a privacidade dos outros?" Foi a última frase que ouvi, depois disso acordei com dor de cabeça, com o corpo vermelho, dolorido e ardendo muito, estava morrendo de sede e careca. Olhei ao redor e vi o quarto que me abrigou nestes últimos 23 anos: paredes amarelas com bolinhas roxas, um computador turquesa e uma cama amarela com bolinhas roxas. Não espero mais estar sonhando, mas se eu estiver em coma, quem sabe...
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Imagina só...

segunda-feira, 7 de junho de 2010


Era um dia como outro qualquer. Minha esposa ainda não tinha acordado... Pois, como sempre, eu acordei, sozinho, às 5:15 da manhã! Que saco ter de trabalhar tão cedo e ainda FAZER CAFÉ!! Calma... respira... Lavei o meu rosto pensando o que ia ser se todo mundo soubesse o tanto que eu sou preguiçoso... Imagina só!
Depois de lavar meu rosto, tomei um banho, me vesti pro trabalho. Carlice e os meninos começavam a se levantar. E eu fui pra cozinha fazer o café, e o "ovo com queijinho" que os meninos adoram. E só comem o meu!!... Quer dizer... Isso porque eles nunca comeram o de mais ninguém (hehehe). Porque eu sou um dos piores cozinheiros que eu já vi! Imagina só... Os meninos, com certeza, iam preferir o "ovo com queijinho", que só eu sei fazer, da mãe deles...
Pena que, desta vez, não tive muito tempo de receber os elogios do João e do Pedro... Devia sair mais cedo para o trabalho. Meus funcionários estavam começando a chegar atrasados em demasia. Nada demais... Só precisavam de um exemplo. Só precisavam nada! Eu é que não consio fazer nada com eles... Lembro-me muito bem, quando tive que demitir a Norminha, foi uma semana me preparando pra fazer a cara de um chefe austero. Ah... Se ela soubesse que eu sou um coração de manteiga... Imagina só, isso! Estaria trabalhando comigo, mesmo rendendo pouco, até hoje! Enfim... Exemplo dado... Acabou que eu fui olhar no ponto e vi que só uns dois chegaram atrasados por algum tempo... Consegui conversar com eles e vi que eram justificados os atrasos.
Deu onze! Saí da empresa pra buscar os meninos no colégio. Chegando lá... Gente... que fofo! Eles estavam falando que eu conseguia carregá-los sem parar o dia inteiro, que eu era 'super-forte' e não me cansaria... Eu tive de dar uma veracidade pra história deles né? Cheguei gritando! pegando-os no colo e jogando-os pro ar! Mas fiquei escondendo minha cara de dor nas costas... Vê se eu não ia esconder. Imagina só! Os amigos iam zombar muito deles se soubessem que eu não sou tããão forte assim...
Deixando os meninos em casa eu fui para a esgrima com meus amigos... No meio da conversa eles começaram a falar de café-da-manhã. Eu não sei porque a gente foi parar nesse assunto... Sabe? coisa de amigo mesmo... conversa de tudo! Mas eles ficaram falando de como a 'patroa' fica xingando que eles nunca se levantam enquanto elas fazem o café... Se rindo de como conseguem ficar impunes toda manhã... Cada um tem sua tática! Morri de rir!Até que eles me perguntaram como é que eu faço pra enganar a Carlice todo dia... A mentira escapou pela minha boca. Falei que sempre ia pro banheiro e ficava um temp"inho" a mais no banho. Eles ficaram nas gargalhadas! Eu fiquei meio sem graça de ter mentido... Mas que bom, né? Imagina só, como é ser o único 'pau-mandado' da patrôa do grupo!
Fato é que, depois da esgrima e de carregar "as crias"... Precisei de tomei um Tylenol... Estava um caco! Mas chegando em casa... João ficou querendo me mostrar os desenhos, falar dos deveres e contar das (oito) namoradinhas... Não estava com o menor humor, nem com a menor paciência... Mas escutei com cara de interesse... Imagina só, que espécie de pai seria eu se não fizesse essas coisas?
Mas eu prcisava descansar... E ninguém melhor do que a Carlice pra me ajudar, né? Pedi a ela uma massagem 'daquelas'! Ela fez... e a gente foi dormir... Na cama, virado pro espelho do quarto, eu fiquei pensando em como todo dia é a mesma coisa... e como eu fico cada vez mais longe de ser feliz... é... acontece...
Não!!! Eu não tenho o DIREITO de reclamar da vida com uma família tão bonita! Filhos que me amam tanto!! Um trabalho que os sustentam... Um hobby tão prazeroso... Eu não posso ficar me queixando da rotina. E se a Carlice descobre que estou tão insatisfeito!!! Imagina só!!!
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Homenagem ao Rebelde

domingo, 6 de junho de 2010


Eu fui fazer
Um samba em garantia
À honra da rebeldia
Tão presente há uns tempos atrás

Eu fui à praça
E vi com grande apatia
Que aquela tal rebeldia
Não existe mais

Agora fico espantado
O que dá de rebelde falsamente magoado
Rebelde pela praça com o cabelo de lado
Rebelde meio triste, com um jeito ensebado
Rebelde que deixa o velho punk decepcionado
Rebelde que passa a imagem de desafortunado
Mas sempre foi mimado

E aquele punk pra valer
Que infortúnio
Aposentou o coturno
Tem mulher, ou homem
Não sei não

Dizem alguns
Que acabou-se essa raça
Que passa longe da praça
Pra não ver morta a tradição


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Uma História Felina

sexta-feira, 4 de junho de 2010


Ele levantou de manhã com a promessa de voltar com comida. Quatro gatinhos bem pequenos, com os olhinhos recém abertos, espreguiçaram-se do cantinho cheio de papelão em que dormiam, e lançaram um olhar de desalento enquanto o papai saía mais uma vez.
O gato esguio saltitou pela saída do beco, entre caixas, pichações e sacos de lixo. A vida era difícil: Logo agora que ele foi abençoado com quatro vidinhas frágeis, a vigilância sanitária resolveu fechar o restaurante de frutos do mar em frente à sua casa, do qual ele costumava alimentar a si mesmo e a seus filhotes com ossos, escamas e cabeças de peixe. A solução? a criatividade reinar quando a fome batia.

Chegou à rua que cortava o beco. Olhou com ressentimento para os dois lados, nunca se sabe quando a carrocinha está no bairro a levar gatinhos (não são só os cachorros que viram sabão) embora, a mesma carrocinha malvada que levou a mamãe gata naquele dia tão triste, logo depois de dar à luz.
Barra limpa, nenhum camburão à vista. Saltou até o passeio, de onde começou a procurar alguma ideia. À direita, o açougue; não, o dono de lá odeia animais e a última vez que ele lascou uma costelinha, saiu de lá a pauladas. Arriscado demais.
À frente, a padaria; não, a Sra Naná, dona do lugar, é alérgica a pêlo de gato e tem pavor a eles em qualquer lugar do seu estabelecimento. Aquela vez que ele se atreveu a colocar a patinha nos fundos da padaria, foi expulso a pontapés.

E quem sabe a casa daquela vovó boazinha que sempre dava leite a ele quando estava cuidando do jardim e o via passar? Aquela casa amarela da esquina, da Sra. Francisca.. A velhinha mesmo ninguém via mais, por algum motivo desconhecido, mas os bichanos repararam que a casa andava mais movimentada, e diziam por aí que o netinho dela se mudou pra lá. O pior é que ele maltratava muito os animais do bairro que passavam pelo quintal dela. Três cachorros saíram ganindo do quintal só na semana passada, dois gatos com latas amarradas no rabo, e o terreiro era cheio de passarinho morto. E a Dona Chica, legal do jeito que sempre foi, não impedia essas crueldades? O gato não entendia. Mas mesmo assim resolveu tentar, só torcendo para tudo dar certo e seus filhinhos terem o que comer nessa noite fria que se aproximava.

Se esgueirou pelo buraquinho do muro de tijolos da casa, tão conhecido por ele. Com cuidado, estreitou os olhos verdes à procura de alguma criança maldosa: nada, tudo ok. Com sua agilidade felina, saltou elegantemente até a soleira de Dona Chica, mas nesse caminho.. Um pedaço de graveto pontudo o atingiu com velocidade na perna esquerda, e uma dor lancinante o avassalou de uma vez. Sem pensar, liberou toda a sua dor:
- MIAAAAAAAAAAAUUUUUUUUUUUUU!!!!
Caiu com estrépito no tapete da entrada da casa, e olhou para sua perna: quebrada. Aliás, era o que parecia, estava articulada pro lado contrário que deveria estar. Desesperou-se, sem conseguir se mexer.
A imagem de seu agressor se aproximava, tornando-se cada vez mais nítida: Um menino de uns 9 anos saía de trás de um arbusto, sorrindo maldosamente, olhos estreitos de tamanha perversidade, sardas por todo o rosto. A atiradeira na mão, alguma espécie de brinquedo sádico com o qual machucava os pobres animais. Pronto. Acabou. Fim da linha. Seus filhotinhos morreriam de frio e fome no mesmo beco que ele deixou esperançoso nessa manhã. Fechou os olhinhos de medo enquanto a criança o levantava com suas mãos rechonchudas...

Até que Dona Chica abriu a porta, cabelos brancos presos com um palitinho no alto da cabeça. Estava imobilizada do tronco para baixo em uma cadeira de rodas, ahá, era isso. Aí estava o motivo de ninguém mais ver a velha molhando as flores do jardim. A senhora espantou-se com a cena e disse, com a voz rígida:
- Marquinhos! Que miado alto foi esse daqui do quintal?
Lançou um olhar de decepção ao pobre gato imobilizado nas mãos do neto, cujo sorriso sumia devagar do rosto redondo.
- Estou muito admirada com o seu atrevimento em maltratar animais mais uma vez..O que tínhamos combinado? Esse gatinho não fez nada de mal para você.
Com cuidado, tirou o gato perplexo das mãos de Marquinhos, que estava revoltado. Fechou a porta, deixando a criança sozinha no quintal, e entrou na casa com o gatinho aninhado nos braços quentes, se sentindo em segurança.

Naquela tarde, Dona Chica improvisou uma tala e sarou a perna do nosso protagonista. Deu a ele muito leite e até um pedaço de bife, sabendo da fome que ele sentia. Agradecido, o responsável gatinho levava na boca um pacote de ração amassada, para filhotes, enquanto ronronava na beirada da cadeira de Dona Chica.

A velhinha realmente salvou o dia, enquanto telefonava à mãe de Marquinhos, pedindo para buscá-lo de volta ao interior.
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Que (diabos) será isso?


Querides, eu não vou contar uma história nesse tema musical, e o que colocarei aqui não tem a menor pretensão de se aproximar de literatura alguma. Quero falar de um tema específico, traduzido em uma polêmica musical tripla: o clichê interpretativo.

Já ouvi dezenas de especialistas dizendo que a concepção atual de arte não leva em conta o que o autor pretendia passar com sua obra, e, sim, o que as pessoas entendem dela.Tinha até um professor que falava assim: “Na interpretação vale tudo, só não vale falar que o texto tem a ver com a Coca-Cola”.

Essa ideia de interpretação representou um grande avanço para o entendimento da arte na medida em que nos livrou de problemas puramente metafísicos, como o de tentar descobrir o que o autor pensou na hora em que compôs sua manifestação artística e pesquisar toda sua biografia para entender a obra.Entretanto, assim como outras novidades, essa liberdade foi tão banalizada que se tornou quase impraticável,devido aos tamanhos absurdos que produz.As conseqüências bizarras são tantas que fazem os alunos de ensino médio terem aulas específicas para interpretar determinados livros e poemas.E o professor ainda tem que avisar que não pode relacionar com Coca-Cola.

A Coca-Cola da vez é relativa a uma trilogia de Chico Buarque: “O que será – Flor da Terra”, ” O que será- Abertura” e “O que será- À Flor da Pele” .A maior parte das pessoas só conhece a “Flor da Terra”.As três músicas foram feitas para a peça “Dona Flor e Seus Dois Maridos”,em 1976.Pergunte para seus coleguinhas que conhecem essa música do que eles acham que ela se trata.A maior parte vai dizer que é sobre a ditadura.Alguns ainda se arriscarão em justificar com uns dois ou três versos e mencionar a data em que ela foi criada.

Antes de dizer qualquer coisa sobre isso, gostaria que olhassem a letra das composições:



Abertura

O que será que lhe dá
O que será meu nego, será que lhe dá
Que não lhe dá sossego, será que lhe dá
Será que o meu chamego quer me judiar
Será que isso são horas dele vadiar
Será que passa fora o resto do dia
Será que foi-se embora em má companhia
Será que essa criança quer me agoniar
Será que não se cansa de desafiar
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem juízo

À Flor da Pele

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

À Flor da Terra

O que será que será
Que andam suspirando pelas alcovas?
Que andam sussurrando em versos e trovas?
Que andam combinando no breu das tocas?
Que anda nas cabeças anda nas bocas?
Que andam acendendo velas nos becos?
Estão falando alto pelos botecos
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não tem certeza
Nem nunca terá!
O que não tem concerto
Nem nunca terá!
O que não tem tamanho...

O que será? Que Será?
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Está na romaria dos mutilados
Está nas fantasias dos infelizes
Está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos dos desvalidos
Em todos os sentidos
Será, que será?
O que não tem decência
Nem nunca terá!
O que não tem censura
Nem nunca terá!
O que não faz sentido...

O que será? Que será?
Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão repicar
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo padre eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar!
O que não tem governo
Nem nunca terá!
O que não tem vergonha
Nem nunca terá!
O que não tem juízo


“Está na fantasia dos infelizes”- Por que alguém realmente acha que a ditadura, a censura, a opressão poderiam estar na fantasia de alguém?Ou atiçam os ardores de alguém?Ou que são “uma aguardente que não sacia”? Talvez Chico estivesse mesmo querendo falar de ditadura, mas tenha ficado sem ideia e resolvido escrever um tanto de coisa sem o menor sentido para preencher as três letras. É um escritor tão descompromissado, né.

Existe uma linha muito tênue, na análise de qualquer texto, entre a interpretação que leva em conta sentimentos pessoais instigados ao entrar em contato com a obra e aquela conduzida pelo mais bruto senso comum. É claro que muitíssimas pessoas que ouviram, por exemplo, “Cálice” ou “Apesar de você” perceberam na hora que as letras eram protestos de Chico contra o regime vigente. O problema incide em interpretar com base na lógica matemática e começar a achar que o fato de o músico ter composto uma dúzia de letras relacionadas a um mesmo tema significa que todas as outras duzentas composições provenientes dele terão semelhante pretensão. Realmente é bem bacana compartilhar com outras pessoas o entendimento relacionado a um texto, mas quando alguém chega e fala que “O que será” só é sobre a ditadura (ou que um soneto renascentista tem a ver com Coca-Cola) , a construção artística se esfarela em um segundo,dando lugar a uma ideia industrialmente produzida e um tanto quanto perturbada.O próprio Chico Buarque, em 1992,ao ler sua ficha no Dops-DPPS, em que há uma análise de "O Que Será" como algo referente à ditadura, declarou ao Jornal do Brasil: "Acho que eu mesmo não sei o que existe por trás dessa letra e, se soubesse, não teria cabimento explicar..."

Convido todos vocês a buscarem um significado pessoal para essa trilogia, algo que venha realmente de dentro, livre de qualquer desgastado conceito introjetado pela sociedade. Só assim é possível imaginar, sem assassinatos à arte, uma liberdade de sentimento do leitor.Daí se alguém conseguir me explicar, de maneira coerente, como dá para achar que essas músicas são protestos contra a ditadura, por favor me escreva o mais rápido possível, porque eu terei que procurar uma nova forma de entender o mundo real.Enquanto isso não acontece, fica a minha sugestão do que a trilogia se trata.Por causa de cada verso em particular e pelo contexto na qual foi criada, só consigo pensar que ela fala de amor.
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Nem formoso nem chino

quinta-feira, 3 de junho de 2010


Acordei com frio como há muitos meses.
Teria me sentido só não fosse pelo som do violão - não um som qualquer ou um ao qual meus ouvidos já estivessem acostumados. Não cantava as letras dos legionários, nem louvava às gatas extraordinárias - tinha sutaque andaluz, era acompanhado por palmas, vozes chorosas e castanholas. Retornei o extremo onde deixei uma vida de expectativas e sonhos de outros. O que antes era um ato de rebeldia para alguns se transformou em atestado de loucura. Nada imporatava, ninguém e todos me conheciam, tinha a cara de um qualquer que logo partiria. Não mais havia nome, nem papéis. Meu prazer era partir, meu vício eram folha secas de nome de plantas femininas, meu legado na verdade são pequenos gestos, são colares e sorrisos arrancados de pequenas floristas. Sou sombra, viajante, argelino, argentino. Sou ilegal.


Lembranças a um, que se tudo der errado, clandestino querido.
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Preguiça criativa

quarta-feira, 2 de junho de 2010


Acordei. Espreguicei-me lentamente, sentindo todos os meus músculos se esticaram, e o tecido leve de meu pijama roçar meu corpo. Virei de lado, parar melhor acomodar-me, e vi finos raios de sol passando pelas frestas da janela de madeira, deixando visível toda a poeira que passava por ali também.
O mesmo sol que entra pela minha janela, que me traz nostalgia de tempos em que não me preocupava com trabalho, dinheiro, tempo, é o sol de mais um dia comum para muitos, o sol que os lembra de voltar para a correria, o sol que avisa que o tempo continua passando e que você provavelmente está atrasado.
Alguns podem até serem otimistas, patriotas, visionários, e se levantarem pensando que seu trabalho construirá uma nação melhor, que cada dia que passam dando seu melhor se transformará num dia melhor para seus filhos, netos.
Eu, entretanto, não. Não me levantarei, não trabalharei, não construirei um futuro. Hoje não. Ficarei aqui, olhando o sol, me lembrando de minhas saudades, e analisando o fato de que, algumas manhãs a frente desta, é provável que me lembre desse momento, e sinta também, saudades dele.



Música : http://www.youtube.com/watch?v=rqbcV39Sq1o
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Onde anda Iolanda

terça-feira, 1 de junho de 2010


Quando se trata de cozinha, sou eu o topo. Nenhum outro se compara à minha potência e precisão. Não há nenhum outro instrumento capaz de desemprenhar minhas funções, as faquinhas tentam, é verdade, mas se fossem elas tão grandiosas seriam merecedoras de um suporte como o que eu uso para repousar.
Como já era de se esperar, não é apenas no trabalho que me destaco. Sou o maior Don Juan das redondezas. Não há alimento que resista ao meu charme. Não importa o tipo, principalmente quando se trata de frutas, é só minha superfície fatal tocar as irregularidades do alvo e pronto. As portas vão se abrindo e elas logo permitem que eu penetre lentamente, desvendando e transformando seus corpinhos. O serviço acaba, cada um segue seu destino e lá vem a próxima, tudo recomeça.
Achava que isso nunca mudaria, é aí que entra Iolanda. Minha face afiada e polida não parecia mais tão grandiosa. Perto daquela coroa magnífica e dos espinhos levemente esverdeados, meu cabo de carvalho parecia insignificante e desprezível.
Para minha surpresa, Matilde, a cozinheira, queria o serviço em etapas. O primeiro foi inesquecível, estava tão distraído quando a conheci e, de repente, tão envolvido... Não sou experiente no assunto, mas asseguro que era amor.

Quando eu te vi andava tão desprevenido
Que nem ouvi tocar o alarme de perigo
E você foi me conquistando devagar
Quando notei já não tinha como recuar

Os momentos que passávamos juntos eram inesquecíveis, eu queria me dedicar a ela inteira e intensamente, no entanto, sempre tinha alguns companheiros de suporte para me lembrar que tinha data marcada para o fim.

E foi assim que nos juntamos distraídos
Que no começo tudo é muito divertido
Mas sempre tinha um amigo pra falar
Que o nosso amor nunca foi feito pra durar

Infelizmente, o tal dia chegou e, quando cheguei ao balcão, ela não estava à minha espera. Olhei desesperadamente ao redor e lá estava Diego, o maldito liquidificador a havia levado para sempre. Não sabia o que poderia fazer, mas não podia apenas aguardar e retornar à minha vida. Nosso amor era muito grande, todos viam, somente um amor tão grande seria capaz de de unir os maiores!

Por mais que eu durma eu não descanso
Por mais que eu corra eu não te alcanço
Mas não tem jeito eu não sei como esperar
Desesperar também não vou
Não vou deixar você passar
Como água escorrendo nos dedos
Fluindo pra outro lugar

Ninguém pode negar que o nosso amor é tudo
Tudo que pode acontecer com dois bicudos
Não são tão poucas as arestas pra aparar
Mas é que o meu desejo não deseja se calar

Tomei meu demorado banho, voltei para cama, fiquei dias sem trabalhar. Não conseguia parar de pensar e rever minha relação com Iolanda, tinha algo que podia ser feito, o final poderia ser diferente... Não importa, eu simplesmente não consegui viver sem ela.

Até os erros já parecem ter sentido
Não sei se eu traí primeiro ou fui traído
Não te pedi uma conduta exemplar
Mas é que a sua ausência é o que me dói no calcanhar

Aqui deixo meus últimos registros, não posso sobreviver sem Iolanda.

Será sempre será
O nosso amor não morrerá
Depois que eu perdi o meu medo
Não vou mais te deixar.
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