Em dois empregos

quarta-feira, 9 de junho de 2010


Era uma vez um cara. Homem, 40 anos, trabalhador. Seu trabalho era bastante incomum: produzia suas própria revistinhas e as vendia no sinal. Você pode estar pensando: “Que isso! O cara rala pra fazer as revistinhas e vende no sinal, ninguém deve dar valor ao trabalho dele ” Que nada ! Seu jeito diferente de vender o torna bastante conhecido na cidade.
Anda por aí, com uma big placa amarela que divulga exatamente como é feito seu trabalho e o nome da edição que está sendo vendida. Porem, contudo, todavia, entretanto, descobri que falta uma informação nessa tal placa amarela.
Era uma quarta-feira de manha, exatamente 5:30 AM, e eu estava no ônibus que pego todos os dias para ir ao trabalho. Todos que estavam nele dormiam, tentando aproveitar os poucos minutos que os restavam antes do trabalho árduo. Eu não conseguira dormir aquele dia. Chegamos ao centro da cidade, e passamos em frente o Pirulito da Praça Sete. “Mas que estranho, tenho CERTEZA de que está faltando um pedaço! Ele não fica mais fininho na ponta? Ou será que todos esses anos tive essa ilusão? ” Resolvi me certificar e olhei novamente para o monumento. O que vi em seguida me encheu de pensamentos estranhos pelo resto do dia. Era um homem, eu já havia o visto antes. Era mais velho, um pouco. Mas ele voava! E o mais espantoso: trazia o complemento do Pirulito da Praça Sete na mão! Eu o observei, estupefato, e o vi colocar o pedaço do monumento em seu exato lugar, e ir embora, como se fizesse aquilo todos os dias.
“Não, devo estar ficando louco!” Meus companheiros de ônibus continuaram dormindo, sem sequer imaginar o que acabara de acontecer.
Chegando ao trabalho, agi normalmente, cumpri todas as minhas obrigações. Alguns amigos mais próximos comentaram que eu estava meio avoado. “Briguei com a patroa!” dizia. Não contaria nada a eles, me achariam louco! Mas a verdade é que a cena não me saía da cabeça.
No ônibus de volta pra casa, procurei encontrar outro acontecimento estranho. Nada.
“Será que eu dormi por um instante e sonhei com aquilo? Não pode ser!” Foi tão... real!
Os dias se passaram, e pouco a pouco fui esquecendo. Aceitei que provavelmente sonhara. Parei de pensar no assunto.
Na semana seguinte, sexta-feira, 18:30 PM, voltava do trabalho. Cansado mas feliz, pois teria folga no sábado. “Que saudade de descansar dois dias inteiros.”
Olhei pela janela, admirando a Praça Raul Soares e seu engarrafamento.
- OLHA A REVISTIINHA!
“Aquele cara da placa amarela de novo! Acho que vou comprar uma dessas pro meu menino, ele vai ficar feliz.”, pensei. Acenei para o vendedor, e tive a sensação de que o conhecia de algum lugar. Foi extremamente simpático comigo, desejei que vendesse muito. Quando olhei a capa, que susto! Era exatamente a cena de quarta-feira de manha, com apenas uma diferença: o herói que devolvia o pico do Pirulito era jovem, musculoso, e o que de fato o fizera era mais velho, e com um corpo mais modesto.
Será que o vendedor também tinha visto aquilo? Afinal, eu não era louco nem havia sonhado? Olhei para ele, a procura de uma resposta, e tudo que obtive foi um sorriso compreensivo, como um sorriso que lê seu pensamento.
Calma... “Agora tudo faz sentido! É ele! O vendedor é o herói! Realiza suas proezas e depois as conta em formas de resvistinha, fazendo do personagem jovem e másculo sua” Identidade secreta “ “
O procurei de novo, para retribui o sorriso e o dizer que seu segredo estaria a salvo comigo, mas lá estava ele, correndo entre os carros, vendendo seu produto.
“ Puxa, eu que acho meu trabalho difícil, imagina o desse cara ! Na placa dele devia é estar escrito: SUPER HERÓI EM DOIS EMPREGOS.”