segunda-feira, 26 de julho de 2010


Terça-feira de manhã, mais uma aula de física. Já estamos naquela fase do ano em que os alunos começam a se desesperar e mudar de postura, então a sala está toda em silêncio. Tudo o que se ouve é a voz da professora, que ultimamente está ensinando Gravitação. Fora aquele menino esquisito que sempre aposta corrida pelas primeiras carteiras, eu pareço ser a única pessoa genuinamente interessada naquela explicação. Tanto me interessei que comecei a viajar. Pra fora do planeta.

A gravidade começou a atuar de forma contrária sobre mim, fazendo com que eu ficasse cada vez mais distante do solo. Fui deixando aquilo tudo pra trás, ou melhor dizendo, pra baixo, até meu corpo sair completamente da atmosfera da Terra.

Comecei então a me mover em sincronia com a órbita terrestre, numa velocidade que aprendi ser determinada pela raiz quadrada da razão da constante gravitacional vezes a massa da Terra, dividida pelo seu raio. Aquilo não parecia ter resultado num movimento muito veloz, tenho que dizer.

Fiquei ali, girando em volta do meu querido planeta natal, tentando entender como uma vida humana podia ser algo tão grande quando vista de perto, e ao mesmo tempo tão pequeno quando vista de longe. De repente aquela aula de física passou a não ter a menor importância.

Enjoada de girar, dei um pequeno impulso para sair daquela órbita e passei a viajar por inércia pelo universo. Tentei observar um pouco daquilo que havia aprendido, as órbitas elípticas dos planetas, varrendo áreas iguais em tempos iguais, com uma razão constante entre período e raio do planeta. Aquilo era intrigante, sem dúvidas.

Mas mais interessante era como tudo aquilo era lindo. Era tranquilo, pacifico, e ao mesmo tempo apavorante. Muito mais desconhecido do que conhecido, mesmo com todas aquelas teorias e leis. Esse desconhecido provocava medo, mas nunca nos fez perder a vontade nem a coragem de explorá-lo. Mais ou menos como a mente humana. Ela está presente, obviamente, em cada um de nós. Mas está longe de ser decifrada por inteiro.

Mais intrigante que o universo que temos lá fora é o universo que temos dentro de nós. Pensei em quantas possibilidades isso me dava, e isso me deu uma imensa vontade de sorrir.

A gravidade de repente me puxou de volta, e eu me encontrei na sala de aula novamente. Já ouvia o sinal tocar. Que aula seria agora? Química? Isso ia ser interessante.

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Sabe o Mário?

sexta-feira, 23 de julho de 2010


Engana-se quem acha que a língua portuguesa é uma senhora rabugenta largada no escuro latino.Tem lá seus dogmas acentuais e resmunga se tentam modificá-los,decerto.Mas possui alta etiqueta e senso de humor.


Uma de suas virtudes é ajudar o falante a se expressar pelas palavras.Sabe o Mario?Mediar,Ansiar,Remediar,Incendiar e Odiar são verbos que fogem à conjugação regular da gramática- coloca-se um "e" no meio.A sábia medida evita que o fogo de um incêndio amoroso seja perdido - "ele incendia" até desanima.Uma mediação não é confundida (ironicamente) com uma medida e um grito de ódio na 3a. pessoa não se parece com uma frase sobre o dia.

Há também as restrições para a manutenção da boa educação,qualidade imprescindível a uma dama como a língua.Eu computo com tranquilidade,mas se ele "computa",é preciso procurar um sinônimo.Tu,então?Melhor nem falar.

Ultimamente tenho notado que a Dona Flor do Lácio é a cara do Brasil: gastar,ganhar e pagar,por exemplo,participam preferencialmente na forma reduzida.O indivíduo da 1a. pessoa é incapaz de falir,tem-se o verbo "suspender" como abundante.

Além de tudo,a mulher ainda entende de política e a contextualiza humoristicamente na contemporaneidade:



Eu não cri,tu não creste.Ele?Creu!
 
 
ps: escrevi este texto em meados de 2008, mas como me inspirei em uma aula de português, acho que ele se encaixa direitinho neste tema xD
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Hipotenusa

terça-feira, 20 de julho de 2010


Na primeira série não tinhámos que nos preocupar com muita coisa. Português não lembrava redação, gramática nem literatura.História e Geografia eram estudadas juntas com o nome de Estudo Sociais. Biologia, Química e Física eram abrigadas pelo estranho nome 'Ciências'.
Matemática era a pior. Achávamos que seria eternamente inofensiva, mas não, algo grande nos aguardava. Sempre que nossos irmãos mais velhos chegavam em casa dizendo "Matemática é impossível" ou "Mãe, acho que esse ano não vai dar... a Matemática..." ou ainda "Sério!! É coisa do capeta!!!!" pensávamos "Nossa, mas que exagero! É tão tranquilo calcular 3x2 ou 6:3". Sim, achávamos que depois da soma e subtração só existia multiplicação e divisão. Crescíamos pensando em como éramos espertos e inteligentes, nenhuma conta nos escaparia, nenhum cálculo sairia sem resposta.
Na quinta série começamos a entender algo sobre fração. Um pouco mais complicado, observamos alguns colegas com maior dificuldade,vimos aqueles que ainda dão a famosa "agarrada" e saímos felizes.Superamos mais um grande obstáculo da temida Matemática. Mais tarde ainda começam a nos contar que o círculo não é só uma bolinha charmosa, você tem que aprender a fazer cálculos com ela também.
Lentamente o massacre começa. Como quem não quer nada os professores introduzem a fantástica ideia do "Noções básicas de " ou "Introdução a ", palavras chave para o sofrimento.
Antes pensávamos em como nossos exemplos mais velhos eram dramáticos, chega a nossa vez e ainda temos que ouvir " Te avisei que seria assim". Relações entre ângulos, retas, triângulos e outras formas geométricas revelaram-se extremamente complicadas e passamos a invejar aqueles detestáveis seres que dispensavam cadernos e fechavam todas as provas. O tempo passa e tudo só piora, função, diagramas, gráficos, análise combinatória, probabilidade, binômio de newton, progressões, polinômios, etc.
Chega o terceiro ano, vamos todos formar. Aqueles que passaram anos penando para atingir o sofrido 60 no boletim percebem que de nada adiantou. A escolha profissional traz diversas frustrações. "Então eu estudei a vida inteira como que define os números em conjuntos e a conta mais complexa que terei de fazer no decorrer da vida será a do cartão de crédito."
Matématica é sim a matéria ingrata. Se você é um desses que, como eu, não nasceu com o dom, acredite, vai passar noites em claro tentando compreender algo que, futuramente, será inútil e será completamente apagado da sua memória. Mas, se a primeira palavra que você emitiu foi "hipotenusa", você é o maldito ser vivo que invoca ódio em todos não só por montar o gabarito enquanto os colegas choram na prova, mas também por perpetuar essa maldita espécie. Acredite, se não fosse por vocês mais pessoas dedicariam tempo procurando curas de doenças ou soluções para problemas sociais.
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domingo, 18 de julho de 2010


Ela nunca gostou de seguir padrões. Sempre tentou ir contra tudo o que era determinado por aquela entidade abstrata chamada “sociedade”. Não importava se gostava ou não do que estava sendo imposto, ela tinha que ser contrária àquilo. Fazia isso porque achava que assim seria uma pessoa singular, que não segue a maioria.

Não fazia nada que essa maioria fazia. Se determinada música estivesse na boca de todos, sem tê-la ouvido já criava um preconceito e dizia que aquilo não era qualidade, era moda. Só ouvia músicas que tinha certeza de que a maioria na sua faixa etária não conhecia.

Sempre gostou de usar xadrez. Quando essa estampa entrou na moda, foi uma tortura. É claro que ela não poderia mais usá-la, ficaria igual a todos.

Nunca via filmes vencedores do Oscar, eles tinham um público grande demais e todos eram sugestionados a gostar deles, porque estavam na boca do povo. Enfim, fazia tudo o que estava em seu alcance para contrariar o comportamento padrão.

O tempo fez com que ela amadurecesse, e então começasse a refletir sobre seu jeito de agir. Percebeu algo que não tinha passado pela sua cabeça até então: ao mesmo tempo que tentava não fazer parte de um grupo imenso que agia de determinada maneira, integrava outro grande grupo que agia somente em função de contrariar o primeiro. Em ambos, as ações eram controladas pela maioria. A única diferença era que uns agiam pelo padrão, e outros contra ele. Os que agiam contra o faziam por medo de não ter personalidade, e aquilo representava exatamente isso, uma falta de opinião própria.

Percebendo isso, a menina, agora mulher, procurou começar a agir diferente. Não seria como a metade da população, que usa xadrez porque todo mundo está usando xadrez. Também não seria como a outra metade, que usa bolinhas porque todo mundo está usando xadrez. Seria como uma pequena parte das pessoas, que usa xadrez ou bolinhas quando está com vontade.

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Do Contra

sábado, 17 de julho de 2010


Bom, todas as pessoas que tiveram sua infância nos anos 90 conhecem o Do Contra, personagem da Turma da Mônica. Tá, se você não teve infância nessa época ou é um desmemoriado, aí vai um breve resumo do personagem: Do Contra é um garotinho de seis ou sete anos, cabelos lisos em corte de cuia, irmão do Nimbus, e tem a peculiaridade de fazer tudo ao contrário de seus amiguinhos. Explico: Se seu coleguinha diz que o dia está quente, Do Contra coloca um casaco. Se todo mundo tem um cachorro de estimação, Do Contra tem um periquito. Deu pra entender, né?
A história de hoje é sobre esse singelo personagem de quadrinhos. Sendo mais clara, a história é sobre o futuro desse personagem, sobre o rumo que a vida do Do Contra tomou depois que ele cresceu.

Do Contra abandonou o mundo das histórias em quadrinhos, assim que viu que tinha se tornado popular demais. Era contra a sua filosofia de vida seguir o fluxo, então o garoto resolveu abandonar a fama, de forma a se tornar mais um menininho qualquer. E foi assim que aconteceu, Do Contra se tornou mais um na multidão e agora atendia pelo nome de Gabriel.

Gabriel agora tinha 14 anos e estudava em uma escola de classe média alta. Sua mania infantil de inverter todas as coisas permaneceu, e no ambiente escolar começou a ser vista como excentricidade. As roupas que o garoto vestia, totalmente sem propósito. As matérias que ele gostava, ai que cara esquisito. Seu corte de cabelo, totalmente fora de moda. Gabriel foi inserido no panorama da total exclusão social, justamente por sua mania de seguir contra o fluxo. Gabriel, o Do Contra, era a chacota do colégio.

Dai já se viu, né.. Gabriel sofreu bullying eterno na escola, os pais o mandaram para a terapia, e foi aí que a grande mudança aconteceu. Gabriel-do-contra entendeu que, se quisesse ser aceito pela sociedade, ele deveria seguir todas as suas regras e parâmetros. E ele optou por uma vida social ao invés de um hospital psíquico.

Hoje Gabriel não é do contra mais, gosta de tudo que todo mundo gosta, ouve o que todo mundo ouve, assiste ao que todo mundo assiste. Mas continua frequentando a terapia, por falta de personalidade própria.
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Nadando contra a corrente

sexta-feira, 16 de julho de 2010



Porque enquanto a maior parte dos relacionamentos se limita a procurar no outro a completude perfeita, a gente fica aqui na integridade total, sem proibir que o outro vivencie coisas novas, cada um com sua vida independente.A gente não se vê o tempo inteiro nem nos temos um só para o outro,verdade.Mas somos um dos poucos tipos de casais que ficam ligados para sempre, nem que seja por um só fio.

...só pra exercitar....todo o músculo que sente...
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Texto da Bubs


Galere, este é o texto de quinta, ela ainda n aprendeu como postar


Menina estranha. Quando se sente sozinha se isola do mundo... O que mais quer é ajuda, mas esse pedido não sai de sua boca. Sente necessidade de fugir, porém continua frequentando os mesmos lugares... Não abandona a rotina, embora esta a incomode muito. Ela é uma estagnada insatisfeita, incapaz de sair até mesmo da zona de ‘in’conforto.


Ela sai com as amigas, aparentando estar feliz e parece que o ‘aparentar’ é realmente o mais importante. Ela foi trocada, mas isso poucos sabem, porque mesmo sofrendo, mesmo amando, não moveu um músculo para mudar seu ‘destino’.

Retorna a casa depois de uma noite vazia cheia de ‘diversão’.

-Chegou tarde hoje.

(Sério mesmo?)

-Desculpa.

(Desculpa pelo quê? Você está arrependida?)

-Tá tudo bem?

(Como se você já não soubesse a resposta. Não, não está, brilhante pai.)

-Tá tudo bem.

(Boa! Lá se vai mais uma chance...). E ela foi se deitar, contrariando todas as suas vontades, deixando tudo igual, de novo
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Olhos do-contras

segunda-feira, 12 de julho de 2010


É sair um pouco do foco da história contar, exatamente, como o olho funciona mas, acreditem em mim, ele não focaliza a imagem como ela deveria ser focalizada. Ele a vira de ponta-cabeça. Quer dizer... Chega, na sua retina, uma imagem de cabeça para baixo do mundo externo. Aí você deve estar se perguntando "como é, então, que eu vejo tudo direitinho?!?" A resposta não é tão complexa. Seu cérebro, que é mais esperto que a gente, já sabia que dessa visão de cabeça para baixo, e desvira tudo para que "a anta que comanda o cérebro" possa ver tudo direitinho...

O estranho é que nem todas as pessoas podem receber essa mesma resposta para a pergunta que você deve ter se feito. E é aí que entra a nossa história:

Cícero era um homem que nasceu com uma anomalia muito rara no cérebro. Ele parecia não ter aquela partezinha que virava a imagem captada pelos órgãos oculares de cabeça para baixo. Ou seja, Cícero via tudo tudo de ponta-cabeça.

Tinham aquelas pessoas que eram meio burrinhas e que falavam cima, querendo dizer baixo, ao falar com ele. Mas o nosso cima era o cima dele, só que se nós víssemos como ele vê, veríamos que o 'cima' estava embaixo. Entenderam? O homem vivia uma vida normalíssima, afinal de contas, ele nasceu nessa perspectiva. Pra ele, aquilo era o normal e ele nunca havia se incomodado com esse aspecto curioso de sua vida. Quem o conhece até o ouvia dizer muito: "Acho que deve ter um monte de gente assim e que não sabe!".

Mas, num belo dia, Cícero estava vendo a paisagem com seu amigo e o pediu para tirar uma foto com sua Polaroid. O outro tirou, puxou e sacudiu aquele papelzinho até dar pra ver mas, na hora de entregar a foto para seu amiguinho anômalo, deu o papel, por engano, de cabeça para baixo.

Quando o homem olhou para aquele papel, chorou sem parar... Chorou lágrimas que subiam, copiosamente, pelos olhos invertidos de Cícero. Seu amigo, que sempre achou que ele não dava importância, disse, confuso, ao protagonista:
-Calma, amigo! A foto está de cabeça para baixo.
-É lindo! É muito mais lindo do que eu vejo! Eu só vejo céu! Não reparava nessa mudança mágica de cores próxima a montanha!!!
-Mas agora você pode reparar do seu jeito... - O amigo era muito sábio... Quer dizer, pelo menos eu acho... Ah! Você não deve querer saber do que eu acho, voltando ao diálogo:
-Não. O mundo normal é muito mais belo e colorido do que essa minha visão às avessas do meu olho do-contra!

Eu não vou falar das exatas palavras daqui pra frente, porque elas não têm a menor importância... Fato é que o amigo de Cícero tentou conformá-lo e convencê-lo de todas as maneiras possíveis. Mas não foi bem sucedido em nenhuma delas... Cícero queria porque queria "ser normal". Os dois, tristes do acontecido, voltaram para suas casas.

A partir do dia seguinte, Cícero havia começado a procurar opiniões médicas sobre sua visão e descobriu algo, a seu ver (heheheh!! A seu ver!!! ... ah! é... Desculpa...), formidável. A parte do cérebro de Cícero que virava as imagens de volta ao normal, além de ser existente, funcionava perfeitamente bem. Só estava era 'desligada' do resto do cérebro, alguma coisa sobre sinapses importante e bla bla bla de médico.

O neurologista disse, depois de muita insistência de Cícero, que era possível uma cirurgia para 'ligar os pontos' que faltavam. "É como ligar tomadas para permitir que a corrente elétrica passe", dizia o médico. O homem tinha ficado tão empolgado com a ideia de "voltar ao normal" que só pensava em fazer a tal 'ligação de tomadas'... Mas o neurologista disse, com muita propriedade, que essa cirurgia exigia, literalmente, o toque no cérebro humano. Tem de se abrir um buraco no crânio de Cícero, mecher com circuitos em uma área perigosa do cérebro... Era uma péssima ideia a cirurgia. Ainda mais fazê-la em um paciente que consegue viver perfeitamente bem com a anomalia.

Cícero não quis saber e fez a tal cirurgia. No dia fatídico ele acordou feliz, falava "vou nascer de novo!" Sentia as melhores coisas de imaginar que ia ver tudo como os outros, que seria uma pessoa com uma vista muito melhor do que a que tinha agora. Como naquela foto! Cícero morreu na mesa de cirurgia.
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domingo, 11 de julho de 2010


Três garrafas, recém-compradas, estão na dispensa. As três tiveram a coincidência de serem muito bem conservadas, e por isso reutilizadas várias vezes. Podemos então imaginar o quanto de experiência acumularam ao longo do tempo. Começaram a trocar idéias sobre o que já vivenciaram, e foi um diálogo bem interessante.

Uma delas deu início à conversa:
- Sabem, acho curioso observar cada pessoa que toma o líquido contido dentro de mim. Na maioria das vezes é uma turma maior que se reúne, sem motivos especiais. Acho que celebram alguma coisa constante, estão sempre brindando antes de beberem. É sempre uma situação alegre, descontraída. Vai ficando, aos poucos, mais alegre e mais descontraída, e eles vão rindo mais alto e com mais frequência.

A outra se manifesta:
- Comigo essa descontração é mais rápida. As situações em que estou presente variam muito, e quando chego é uma festa só! As mulheres olham pra mim de forma maliciosa, dizendo “Jose é o único homem que me entende, com ele sou capaz de tudo!”. E os homens parecem vibrar quando elas falam isso. Às vezes sou consumida como prenda de brincadeiras, que revelam cada coisa... Vocês não acreditariam! O estranho é que já revelaram arrependimentos causados justamente pela minha presença, mas continuam me requisitando mesmo assim.

É a vez da última falar:
- Quando estou presente muitas coisas são reveladas também! Normalmente é em festas, porque acho que me compram por uma pechincha... Dizem que sou como um vinho de baixíssima qualidade. Preciso concordar, porque já fiz várias pessoas passarem mal. E me olham de um jeito malicioso também, mas acho que é porque tenho uma imagem um tanto quanto sensual no meu rótulo. Já se referiram a mim como “afrodisíaco”, mas acho que é só uma desculpa para fazerem o que fazem quando estão sob meu efeito.

Por fim, as três concordam que o ser humano é realmente muito estranho. Já quebraram a cara várias vezes por consumirem aqueles líquidos, mas sempre voltam a ingeri-los e até adorá-los. Além do mais, que graça tem em perder gradualmente o controle sobre si mesmos? Que maluquice.
Opa, chegou alguém. As três se calaram e se deixaram ser levadas, imaginando onde seria o brinde desta vez.
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Voo 8734

sábado, 10 de julho de 2010


"Por quanto tempo fiquei ali, chamando pelo nome dela? Não consigo me lembrar. Desse dia, o que me recordo com amargura é o sentimento que inundava meu coração: de desespero, de desamparo, de incredulidade. A certeza de que a qualquer hora eu acordaria era sólida, afinal de contas aquilo só acontecia mesmo em pesadelo de quem comeu muito no jantar.. Mas não. Para meu sufoco, a cada instante os destroços do gigantesco avião se tornavam mais reais, e o contraste da selva com uma centena de corpos despedaçados era ainda mais horripilante.

- Viviane!!!! Viviane!!! Vi!!!

Como podem imaginar, eu não obtive resposta aos meus gritos. Nem nesse dia, nem no próximo, nem no próximo depois do próximo..até ficar sem voz, desistir de vez da minha mulher e de nossa tão sonhada lua-de-mel em Paris.

Parece impossível que em um acidente aéreo dessa magnitude só eu tenha sobrevivido com pequenas escoriações, e ainda tenha parado em uma floresta qualquer por aí. Pois é, não quero discutir as razões ou as brincadeiras do destino, mas foi o que aconteceu. Vivo aqui há aproximadamente cinco anos, pelas minhas contas..E nesse tempo, fui devidamente hábil para construir uma cabana digna dos pais do Tarzan, pescar no mar com as habilidades invejáveis do loirinho protagonista da Lagoa Azul, e me sentir tão solitário quanto o Náufrago. E com um agravante: eu não tinha uma bola de vôlei chamada Wilson para me confortar nas noites de chuva.

Antes que contrastem a minha habilidade selvagem com a notável incapacidade de sair desse lugar, já que tive a chance por longos cinco anos, já adianto: nesse tempo todo eu só pude avistar um navio e um avião. O avião passou dois dias após o acidente, acredito eu que procurando por vestígios de sobreviventes. E teriam me achado, se eu não fosse um novato incapaz na floresta.. nesse dia eu estava dolorido de picadas de insetos, com fome, sem nenhuma perícia na selva, e sem capacidade de acender uma fogueira a tempo para que eles me vissem. Não preciso nem expressar aqui a minha frustração depois desse episódio, e por quanto tempo eu me puni por ter sido tão inocente com a minha chance de ouro.

A aparição do navio foi há uns cinco meses atrás, e foi duas vezes mais frustrante. Desde o episódio do avião, eu mantenho junto à praia a fogueira já preparada para ser acesa, acreditando na possibilidade de ser encontrado. Ao ver o navio, a primeira coisa que fiz foi acendê-la. Pular junto à fogueira, gritar, fazer sinal de fumaça, nada disso funcionou para que me vissem nesse lugar maldito.. acho que era um navio cargueiro, pela velocidade que passou pela costa.

Depois disso, tentei construir canoas, jangadas, mas todas elas eram frágeis demais para ultrapassar a arrebentação. Não sou um engenheiro, não exija grandes construções navais de minha parte.. Além do que eu provavelmente morreria de fome em alto mar.

Então, minha última saída, ou artifício para não ficar louco.. é escrever essa maldita carta. Para quem? Para você mesmo, que está lendo agora essas linhas mal traçadas.. se vai funcionar, se vão me encontrar vivo, eu sinceramente não sei. Mas sabe como é, sou um escritor sonhador, e a presença dessa garrafa de água mineral que sobreviveu ao acidente combinada com papel e caneta da minha mala de mão foi irresistível. Lançarei essa garrafa ao mar, hoje mesmo, dia 12 de dezembro de 1994 (aos meus cálculos). Se você recebê-la em um ano compatível com a minha expectativa de vida (quero dizer, se passar de 2035, por aí.. esqueça, foi bom você ter lido algum traço meu dessa vida terrena), por favor, tente mobilizar as autoridades competentes, sei lá quem elas são, a me encontrar. Eu viajava junto de minha esposa rumo a Paris, voo 8734 do dia 5 de setembro de 1989, e caimos nessa ilha após quatro horas de viagem.. Isso é só o que sei.

Por favor, espero que através dessa garrafa eu tenha alguma chance de, um dia, retornar ao mundo do qual eu sempre pertenci.

Afeto,

Paulo.
12 de Dezembro de (aproximadamente) 1994"
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Atacama

sexta-feira, 9 de julho de 2010


Não conhecia Fernando quando me abordou em Dezembro, 98, em uma boate fundo- de- beco de Punta Carreta. Acho que reconheceu meu portunhol visivelmente ridículo pedindo mais rum, pois se dirigiu diretamente a mim e começou a contar-me suas aventuras pelo Atacama. Por um breve momento fiquei satisfeito com meu entendimento fluente de castellano, mas palavras depois contou-me que era de São Paulo- falava português.


O Atacama é o deserto mais alto e árido do mundo, dizia insistentemente. Gostava muito do deserto, a ausência de vida externa combinada com o desejo de viver. Minha cabeça já doía àquela hora da madrugada, mas seu fascínio por aquilo que bem podia não ser em nada verdade, ainda assim, me encantava.

Fernando viajava sozinho há três anos, perambulando pela América do Sul. Seu sonho era preencher o espírito com a cultura de seu continente, não importa quanto tempo isso demorasse. De seus recursos financeiros nada falou, mas já havia conhecido todos os bares e bordeis do norte chileno. Lembro-me do vigor com o qual falava de suas prostitutas, olhares-máscaras de sensualismo adestrado que abrigavam os mais profundos sentimentos. Assim que se vê bem a cultura, dizia, na dor dos olhos, nas cicatrizes espalhadas pelo corpo. E não há nada mais alimentador de espírito que a compreensão de um sofrimento.

Ouvi Fernando até a boate começar a limpar o espaço, em dica explícita para fecharmos a conta. Durante este tempo, presenciei histórias fantásticas, os oásis daquele tão amado Atacama, a cultura travestida em pequenos espaços, os amores, mil deles, fertilizados na areia que nem os cactos se enraízam, a música, as dunas móveis envolvendo ardentemente cada corpo dançante, a dança de suor e sangue e arte. Uma vida que nunca tive me projetando para algo hipnotizante, intenso e enriquecedor...apenas suas palavras foram o suficiente para me convenceram a segui-lo, entendê-lo, quem sabe amá-lo, turbilhão de todos os sonhos que nunca segui, era isso, vida em contraste com deserto exterior, vida mesmo,vigor.Já havia me decidido, não voltaria para minha medíocre firma de engenharia, não teria esposa, nem filhos burgueses, só o que o vento me trouxesse e a aventura alimentasse.Isso sim seria existir.

Antes de sair para minha intensa jornada de espírito, precisei ir ao banheiro, já quase limpo por uma faxineira mal-humorada que faltou me bater quando viu que ainda havia dois clientes. Mijei, lavei o rosto.Olhei fixadamente para o espelho, procurando qualquer coisa que denunciasse alguma sobriedade, um território comum.Voltei a Fernando, angustiadamente contente, e perguntei-lhe sobre como seria nossa vida.Deu uma gargalhada enorme, chamou-me de idiota e vomitou na minha roupa.

O dia seguinte me deu uma ressaca homérica, como se as minhas doses de rum se multiplicassem a cada vez que eu pensava nelas e percebia minha incapacidade de sair da cama do hotel. Acho que foi o Atacama, tipo de sonhos de vida que mais distraem do que se realizam. E o deserto não estava mais lá fora, era por dentro. De alma.
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Domingo é dia

terça-feira, 6 de julho de 2010


Domingo é o dia que despede do descanso e do desgaste da semana que passou e cumprimenta as obrigações da nova. No cais, era o dia do grande movimento e a singularidade dos barcos era encantadora aos olhos do meu velho pai. Domingo era o dia de ir ao cais.

Ele passava horas observando sentado em um banco de madeira úmido, com pregos soltos, completamente desgastado. Passado alguns minutos, fixava o olhar em algum barco, abria o bloquinho e começava a preencher páginas e mais páginas com alguns rabiscos tidos por letras. Quando ele finalizava o texto, fazia um desenho muito elaborado com apenas os traçados básicos do texto original, enrolava o papel e mantinha o olhar baixo, acompanhando o movimento repetitivo das águas. Chegava para o almoço e, terminada a refeição, ia para o porão, onde ficava trancado até a hora do jantar. Só eu fazia ideia do que ele ficava fazendo.

Quando fiz oito anos meu pai me contou da sua coleção de barcos em garrafa e a história de alguns. Curiosamente, os barcos interiorizados eram completamente diferentes, apesar de retratarem um mesmo barco da realidade. Contou também como seu hobbie começou (aos doze, seu pai o pediu para ajudá-lo com a pescaria, ao voltar, enquanto o vovô ficou limpando os peixes, ele ficou sentado olhando o "vai e vem" dos barcos, começou a escrever e, assim que chegou em casa começou a montar seu primeiro barquinho). Naquele mesmo dia, relatou que, era no porão que ele montava a garrafa do dia e guardava dentro dela o texto com o desenho.

Meu aniversário de 17 anos caiu em um domingo. Papai levantou cedo, me levou para o cais com ele, e disse que me daria o presente só quando chegássemos em casa. E que presente! Fui a primeira pessoa a entrar no porão. Fiquei maravilhada, não só pude ver as 2037 garrafas, como pude ajudar papai a fazer o barco do dia e montá-lo, só não pude ter o prazer de ler o texto que era enrolado e inserido junto com a miniatura. Quando terminamos ele disse que aquele era meu e que eu poderia ler o que está escrito dentro de todas as garrafas depois que ele morresse. Lembro que na hora o comentário me assustou, mas entendi depois de exatos 2 meses ao receber a notícia da sua morte.

Durante semanas chorei descontroladamente, pensava que não havia nada capaz de servir de consolo. Descobri meu engano quando, a caminho da cozinha, me deparei com a porta do porão, lembrei da coleção e dos textos contidos dentro das garrafas. Voltei correndo para o meu quarto, procurei desesperadamente pela caixa com meu presente de aniversário. Ao desenrolar o papel, encontrei um poema de aniversário dedicado a mim seguido por um pedido de desculpas. Vertendo em lágirmas silenciosas li sobre a doença que o consumiu, a razão de não ter me contado nada e ainda li a mais bela declaração de amor. Já no final da página, onde supostamente estaria desenhado um barco, tinha um coração. Nele estava pregado com um pedaço de fita adesiva uma chave que eu tinha visto apenas uma vez na vida, a chave do porão.
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O que se deve fazer? Florir?!?!


Me desculpem a falta e o atraso... Para compensar... farei uma história que acumule os dois temas. (e ela tem o tamanho de duas histórias) Ei-la:

Seu José estava muito triste... havia apenas dois dias que sua esposa havia morrido... Mas as crianças desconhecem os momentos de reclusão do homem. Pedrinho chegou mais perto e foi falando sem cerimônia:
-Ô vô, o senhor me conta uma história dessas bem legais?
José, muito triste... contou a história que lhe veio na cabeça. Ele nunca a havia contado... Ele nem sequer se lembrava dela até aquele momento... Parece que a história queria mesmo era ser contada ali... ele então começa.

Te contarei a história de um santo...
Um santo, vovô?
É... mas fica em silêncio pra eu poder contar direito... se você se comportar, te deixo ver meu revolver (José era um profundo conhecedor da psicologia infantil... Pedrinho só fez um sinal com sua mão... Como se fechasse um ziper na boca.)

Ele ainda não foi reconhecido pela igreja... Quer dizer, eu acho que ela nem sabe da história dele. Sem contar que todo dia já tem santo... Não ia sobrar espaço pra ele na folhinha. Mas o fato é que é santo! A vida dele já começa diferente... Porque ele não tem pai nem mãe... Todos acreditam que ele nasceu de uma virgem, como alguns outros santos, mas que sua mãe teve medo de enfrentar o mundo... Quer dizer, ninguém vai acreditar que ela teve um filho virgem... hehehe

Por que, vovô? O que que é virgem?

O que eu te disse sobre meu revolver?... (outro ziper... Aquele deveria estar com defeito) Enfim, Marcos foi encontrado num banco de parque por uma menina de dois anos... Que logo foi correr para a mãe, contar do "neném que ela viu ali" A mãe viu logo a gravidade da situação e acolheu o bebê na sua casa.

O menino cresceu... Mas cresceu sozinho... Ele nunca falava muito com sua familia nova, nem conversava muito com sua mãe... Nunca haviam dito nada a ele, mas ele parecia saber ter vindo de fora. Marcos não passava de um mero observador na casa. Na casa é até estranho de falar... Porque ele raramente estava nela... Ele era aficcionado por barcos, ficava no porto o dia inteiro, em silêncio... os vendo chegar e sair. Os pescadores, marinheiros e mercadores até o conheciam...

Um, desse último grupo, chamado Davi, se encantou com o menino. Praticamente o adotou... Marcos dormia em casa, mas passava o dia inteiro com Davi, aprendendo sobre os barcos e, também, a fazer o produto que o comerciante fazia. Sabe aqueles barquinhos dentro da garrafa? Pois bem... Era isso. Marcos cresceu fazendo isso.

Vovô... (disse o netinho, meio tímido... mas a curiosidade da história venceu a do revolver)
O que é, Pedrinho?
E os milagres? Santo que é santo tem que fazer milagre!
São dois... Eu ia contar o primeiro agora...

Onde eu estava? Ah! Marcos cresceu fazendo aqueles barquinhos... Ficou muito melhor que Davi, inclusive... O menino fazia cada caravela dentro da garrafa, com cada detalhe... Parecia ter nascido pra manejar a pinça. Quando estavam fazendo sucesso com os produtos, Davi e seu pupilo tinham que pegar madeira todos os dias... E em um desses dias que aconteceu o primeiro milagre.

Conta, conta!!
...
(terceiro ziper)

Estavam os dois, na floresta, Marcos tinha uns onze anos. Era difícil pegar madeira, pois tinha que ser boa, e de uma árvore que não sentisse falta de uns galhos... Quanto mais sucesso eles faziam, de mais madeira precisavam, e mais difícil ficava de deixar todas as árvores vivas... O engraçado é que Davi nunca havia feito isso. Quem ensinou isso a ele foi Marcos... Eu acho que era a frase que ele mais falava, quando raramente abria a boca: "Tudo que é vivo deve ser respeitado...". Enfim... Estavam lá, cortando os galhos... Houve um erro de cálculo do mercador e um cajueiro enorme estava pra cair sobre o homem. O menino arregalou um olho e gritou!: "aaaaaaaaaaahhhh".

Outra árvore, um ipê, Próximo aos dois, começou a cair junto mas, agora, na direção do menino... Ia ser trágico... Se as duas árvores não se chocassem e nenhuma delas caiu sobre nenhum deles. Não dá pra entender como um Ipê fininho tirou o tronco grosso daquele cajueiro da rota que ele tinha de queda... Nem porque havia um Ipê naquele clima. Por esses desafios a física e pela coincidência tão acertada, esse é considerado o primeiro milagre do menino Marcos.

Uau! Que doooooido!

É mesmo... Muito "uau"... O acontecimento foi tão importante na vida deles, que cada um fez um barco com a árvore que o salvou, e ficou com eles... Para proteção. Marcos disse outra frase legal aqui... "Eu acho muito egoísta a árvore salvar minha vida, para eu ganhar algo pra me proteger... Tomara que esse barquinho proteja as outras pessoas... que não se protegem sozinhas..."

Alguns anos depois, o garoto, agora com 28 anos, decidiu morar com Davi, pois ele já estava velho... E precisava de ajuda. Não adiantou... O barco de cajueiro não foi tão eficiente e Davi acabou morrendo de tuberculose... Discute-se a idéia de como alguém que mora com um tuberculoso não pega a doença na época em que eles viviam... Se esse é um milagre ou não... Mas eu acredito que não. Marcos sempre foi espectador da vida, as vezes ele nunca comeu com alguém, nunca dormiu com alguém, nunca agiu na vida de ninguém assim... Sem contar que as pessoas boas são deixadas de lado. Marcos não tinha amigos, pois não era lucrativo.

O que que é lucrativo, vovô?

Uma coisa que te ajuda... Te dá recompensa... Entendeu?

Aham... (o ziper se fecha novamente...)

Marcos ficou totalmente sozinho quando Davi se foi... andava pela areia da praia, pescava o que comia e fazia barcos o dia inteiro... Não comprava nada, não vendia nada, só vivia... Os pescadores pareciam falar que o menino tava só esperando chegar a hora dele fazer alguma coisa... Sabe? como se tivesse data marcada, como você espera pra sua prova... Como Marcos não tinha nada pra fazer, não fazia nada. Até que esse dia chegou.

Marcos acordou cedo... Foi puxar a rede que tinha preparado na noite anterior. Pegou os peixes que precisava pra comer no dia, e soltou o resto... Tudo como fazia todo dia. Voltou para casa, comeu e, misteriosamente, foi andar pela cidade ao invés de pela areia. Andando a esmo, olhando para os lados, viu uma coisa e correu para ajudar. Uma moça... Sendo assaltada por dois homens. Eles queriam abusar dela...

Como assim?

Bico calado... Marcos esqueceu-se dos seus interesses, esqueceu-se do ego que tem em todo homem e, como um santo, foi ajudar uma completa estranha... Só santos fazem esse tipo de coisa... Dizem alguns contadores que ele veio brilhando na direção dos assaltantes. Eu acho que não. Porque santos não ficam se mostrando, sabe? Você deve dar esmola com uma mão

Sem deixar a outra saber o que aconteceu... Eu escuto isso na catequese o tempo todo... é um saco!

Mas é verdade... Enfim, brilhando ou não, Marcos foi na direção dos homens, com uma cara mista de bondade, calma e decepção... O fato é que os homens ficaram com muito medo daquilo tudo, não se sabe bem porque... O medo surgiu neles. Quando pessoas normais ficam com medo, saem correndo, ficam paralisadas... Mas, no caso de pessoas com armas...

Eles morreram de medo e dispararam no peito de Marcos, só não foram várias vezes porque as armas da época tinham que ser recarregadas a mão... O menino deu o segundo grito de sua vida "aaaaaaaaaaahhhh"...

Quando isso aconteceu, a garrafa do barco de ipê caiu de seu bolso entre a moça e os assaltantes, quebrou-se e o barco lá de dentro começou a crescer crescer e crescer... Até ficar do tamanho de uma caravela de verdade... Que impedia os homens de alcançar a moça... Ela não se lembrou de Marcos e correu apavorada. Os assaltantes também sairam correndo de medo. O barco sumiu misteriosamente depois de algum tempo, mas o mais estranho era o que estava escrito no barco.

"O ipê não fica com suas flores
não cheira suas flores
não consegue nem enxergar as suas flores

Mesmo roxas, amarelas, rosas ou, se houvessem, transparentes
ele as entrega de bom grado,
Traz e mantém a vida no ambiente

cada um com sua dor
cada um com sua cor
o que devemos fazer?

Florir!"

Essa era a última mensagem de São Marcos?

Não... essa era mensagem do Ipê... Marcos pensava um pouquinho diferente... pouco abaixo desse escrito, com uma grafia diferente, lia-se:

Ensinamentos lindos, do 'reino dos céus'
Mas eu observei e vi na Terra
ensinamentos lindos não devem ser usados ao léu...
Ensinamentos que não se entram na mente do réu
e só valem alguma coisa mesmo é no reino dos céus

Um ipê morre quando cai,
e ninguém lembra dele enquanto não tem flores

O que que esses poemas querem dizer, vovô?
Que lugar de santo não é aqui, Pedrinho... não é aqui... Vamos lá... Ver meu revolver


O poema do Ipê não é bem assim... mas o texto é mais ou menos esse... Eu tinha esse poema e queria colocá-lo na íntegra... Eu o vi pela primeira vez na missa de 7º dia de uma senhora lá da minha paróquia... Mas eu não encontrei o texto, nem na internet...
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Memórias Póstumas de Páti

sexta-feira, 2 de julho de 2010


Queridos humanos,

Foi mal, eu sei que essa coisa de morto ficar dando pitaco sobre o que acontece na Terra já está super fora da moda, e que qualquer adolescente que foi obrigado a ler Memórias Póstumas de Brás Cubas vai querer me matar de novo quando ler o meu título. Mas estou escrevendo por causa de um motivo importante: esse povo da Igreja está queimando todo o meu filme!Cada dia me dá mais arrepio de ver o que eles fizeram com a história da minha vida, no que me transformaram! Chega, essa história precisa parar!

Pra começo de conversa, ponham uma coisa na cabeça desses bispos- eu era uma menina.Menina!Tá certo que era meio gordinha, trabalhava com o que os homens trabalhavam e bebia horrores, mas isso não me tira o direito de ser moça,né?Ah, e eu só andava de calças.Achava um saco aqueles vestidinhos pinicantes que toda mulher tinha que usar para ser uma boa britânica. Enfim, todo mundo me chamava de Pat, eu achava o meu nome um mico, e por algum motivo os bispos começaram a escrever sobre mim como Patrick!
Eu tenho a leve impressão que foi por causa do porre homérico que eu tive em plena praça pública  uma vez. Eu tinha mania de ir pra uma praça da minha cidade e contar os meus sonhos pra quem quisesse ouvir, e muita gente curtia ficar lá enquanto eu fazia isso, falavam que os meus sonhos eram visões. Eu nunca acreditei muito nsso, mas gostava de ficar lá com aquele tanto de gente olhndo pra mim e tal. Mas um dia um amigo meu me levou ao bar pra tomar uma bebida totalmente nova,meio verde,meio cerveja, mas muito bonitinha.Resultado? Cheguei totalmente bêbada pra contar os sonhos, inventei tudo!!uhauhaahaha foi muito engraçado, sem noção, aquele tanto de gente desesperada indo queimar lavouras e brigar com os maridos por causa do que eu estava falando!Achei super comédia na hora, mas aí eu vomitei na roupa do bispo que estava lá e tive alguns problemas.
Pra resolver isso, fiquei um tempão sem voltar ao bar, super certinha, criei uma teoria com o trevo de três folhas pra ver se a cidade voltava a me curtir.Demorou muito,mas acabei conseguindo, teve uma galera que começou até a usar calças e blusas verdes iguas às minhas!Voltei a beber, mas tomando mais cuidado com os horários das visões, mas a Igreja é muito rancorosa, acho que nunca perdoou meu vômito, e fica me chamando de homem pra cima e pra baixo, mudando minha vida toda.Aposto que ela só fala de mim porque a Irlanda me ama, sério.
Então assim, tem como vocês mostrarem esse bilhete para todo mundo que sabequem eu sou, fazendo favor? Entregar pro papa não adianta nada,já mandei carta a ele umas 5 vezes, Deus já tá até fcando nervoso comigo por caus essa comunicação.Eu não devo poder mandar mais bilhetinhos pra vocês, Ele vai ficar muito puto, não deve deixar nem eu acompanhar as homenegens que fazem pra mim por um tempo.As coisas estão rigorosas por aqui. São Longuinho, coitado, foi mandar um comunicado pra Terra e se estribunchou todo.  Então é importante que cumpram essa tarefa.Por favor! Já tô cansada de ter que explicar tudo pra tda pessoa que chega aqui no céu e pede pra me conhecer.E a maioria me zoa, falado que tenho um espírito traveco!

Espero ansiosamente o resultado do trabalho de vocês.Estou de olho, hein!

Beijos,

Páti.
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