Terça-feira de manhã, mais uma aula de física. Já estamos naquela fase do ano em que os alunos começam a se desesperar e mudar de postura, então a sala está toda
A gravidade começou a atuar de forma contrária sobre mim, fazendo com que eu ficasse cada vez mais distante do solo. Fui deixando aquilo tudo pra trás, ou melhor dizendo, pra baixo, até meu corpo sair completamente da atmosfera da Terra.
Comecei então a me mover em sincronia com a órbita terrestre, numa velocidade que aprendi ser determinada pela raiz quadrada da razão da constante gravitacional vezes a massa da Terra, dividida pelo seu raio. Aquilo não parecia ter resultado num movimento muito veloz, tenho que dizer.
Fiquei ali, girando em volta do meu querido planeta natal, tentando entender como uma vida humana podia ser algo tão grande quando vista de perto, e ao mesmo tempo tão pequeno quando vista de longe. De repente aquela aula de física passou a não ter a menor importância.
Enjoada de girar, dei um pequeno impulso para sair daquela órbita e passei a viajar por inércia pelo universo. Tentei observar um pouco daquilo que havia aprendido, as órbitas elípticas dos planetas, varrendo áreas iguais em tempos iguais, com uma razão constante entre período e raio do planeta. Aquilo era intrigante, sem dúvidas.
Mas mais interessante era como tudo aquilo era lindo. Era tranquilo, pacifico, e ao mesmo tempo apavorante. Muito mais desconhecido do que conhecido, mesmo com todas aquelas teorias e leis. Esse desconhecido provocava medo, mas nunca nos fez perder a vontade nem a coragem de explorá-lo. Mais ou menos como a mente humana. Ela está presente, obviamente, em cada um de nós. Mas está longe de ser decifrada por inteiro.
Mais intrigante que o universo que temos lá fora é o universo que temos dentro de nós. Pensei em quantas possibilidades isso me dava, e isso me deu uma imensa vontade de sorrir.
A gravidade de repente me puxou de volta, e eu me encontrei na sala de aula novamente. Já ouvia o sinal tocar. Que aula seria agora? Química? Isso ia ser interessante.
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