A selva amanheceu com um alvoroço além do normal. A bicharada saía pelas clareiras bradando suas escolhas, vestida de acordo com a sua opinião; Grupinhos de conversa eram formados em todos os cantos, discutindo com afinco um assunto em comum. Também, pudera, em época de eleição para o novo Rei da Floresta, tanto barulho tem razão.
Os bichos daquela comunidade eram ligados à política, e escolhiam a dedo o melhor governante (ou, pelo menos, boa parte dos bichos tentava acertar). Por esse motivo, quando a votação se aproximava, cada candidato tinha um tempo limitado diante da plateia para expor seus ideais.
Dessa vez, a primeira a se manifestar foi a Galinha, em sua segunda tentativa de eleição. Discursou bonito, prometendo continuar com excelência o trabalho da Lula, ex-presidente. Argumentou também que agora, em sua segunda chance, estava mais preparada e amadurecida para o importante cargo.
A surpresa veio ao término de seu pronunciamento: Apesar da convincente oratória, foi pouquíssimo aplaudida. A explicação veio a seguir: O Gambá tomou seu lugar e, mal havia subido ao palco, foi ovacionado pelos animais, reforçando sua posição de favorito ao cargo.
Iniciou e progrediu seu discurso de forma inflamada e agressiva:
- Caros amigos, estou aqui de cara limpa a falar frente aos senhores, isso pois sou um amante da transparência, um amigo da democracia, um admirador da verdade. É minha obrigação, como cidadão de nossa famigerada floresta, alertar a todos vocês, eleitores, sobre as mentiras que têm sido contadas, e sobre a real situação de uma conhecida em comum a todos nós.
A bicharada ouvia com atenção, enquanto o Gambá prosseguia com voz retumbante:
- Infelizmente, falo de uma concorrente ao posto de governante da selva. Sim, companheiros! A Galinha que aqui discursa em frente aos senhores, educada e ereta, que tanto fala em justiça e igualdade, é na verdade uma farsante!
A Galinha arregalou os olhos e levou a asa ao peito, ofendidíssima, enquanto o Gambá enxugou uma gota de suor que descia de sua testa. A plateia teve tempo para processar a informação, e exclamou algo parecido com um "oooh" de surpresa.
- Explico o porquê de uma afirmação tão dolorosa, meus caros. Saibam vocês que ontem, às vésperas desse pronunciamento, minha equipe flagrou essa candidata a representante da lei dentro de nossos aposentos, vestida de preto e camuflada, acompanhada de seus assessores. Vocês me perguntam, queridos, o que faria essa fêmea nos meus aposentos eleitorais? Eu vos respondo com profunda indignação: A Galinha estava defecando em nosso material de divulgação, estragando a nossa campanha!!!
A Galinha olhou para os lados, nervosa, enquanto sua assessoria a amparava, retirando-a com calma e resignação do local. A bicharada entendeu isso como uma declaração de culpa, e já começou a se alvoroçar. O Gambá, aproveitando a agitação popular, continuou, agressivo:
- Eu falo nada a mais que a verdade, amigos! Esta é uma demonstração das nojeiras que essa galinácea suja é capaz!
Os bichos, revoltados, se uniram em um coro de "SUJA!! SUJA!! SUJA!!" enquanto a galinha saía envergonhada do local. O Gambá olhava satisfeitíssimo para a atmosfera que tinha criado, quando algo inesperado aconteceu...
Vocês sabem, Gambás são bichos imprevisíveis, soltam um gás muito fedorento nas situações mais inesperadas: Quando estão nervosos, ansiosos, ou empolgados..
E foi o que aconteceu. O Gambá, que tinha protestado tanto contra a nojeira da Galinha, se empolgou com a situação e soltou um pum tão fedorento, mas tão fedorento, que afastou todos os bichos do comício. Todos eles perceberam que tinha sido o Gambá o autor da bomba, e saíram enojados do lugar. Duas lêmures fêmeas vomitaram de nojo, e um flamingo idoso desmaiou.
O resultado? Mais da metade dos bichos votou em branco naquela eleição. Desde então, todos optaram por fazer da selva uma anarquia.
MORAL DA HISTÓRIA: Quem tem teto de vidro não apedreja o dos outros.
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Eleições na selva
sábado, 26 de junho de 2010
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