De abacaxis (e) do mundo.

sexta-feira, 7 de maio de 2010


Sempre quis saber por que “desgraça” virou sinônimo de algo detestável e desastroso.O prefixo latino “des”, que acompanha a palavra, é usado para indicar o fim,o oposto ou o mau uso do que formam as letras restantes.Logo, um indivíduo desgraçado nada mais seria que alguém incapaz de produzir graça, como aqueles que fazem piadas sobre pontinhos-no-meio-de-qualquer-coisa ou seres suficientemente estabanados para serem vistos como total destituidores de elegância.

Entretanto, elementos desgraçados, no Brasil, são também símbolos de miséria e infelicidade,chegando, em muito, a ser objetos de ódio e repulsa alheia.O dicionário elenca uma série de adjetivos desagradabilíssimos para seres classificados desta forma,enquanto a etimologia só se refere à falta de charme e humor.Mas talvez seja por isso que ex-namorados, amigas-da-onça e políticos sejam tão detestados:não tem graça o suficiente.
Como os abacaxis. Nunca vi uma fruta tão rejeitada pelas pessoas (alergia,dizem) e que machucasse tanto.Por fora é maravilhosa e tem um perfume muito atraente, e sua coroa a faz parecer de imensa imponência e respeito.O fato de se encontrar disponível em qualquer bairro que tenha espaço para um caminhão com alto-falante é de levar a pensar em uma fartura ensandecida, capaz de fascinar passantes.Mas um contato mais próximo retira qualquer tipo de ilusão positiva: é um fruto dificílimo de se abrir, seu manejo pode machucar devido à acidez de sua essência.O gosto é muito prazeroso em alguns momentos, mas repentinamente se torna muito azedo a ponto de provocar caretas involuntárias.Sua coroa não serve para nada: é um esteriótipo de poder que só dificulta a aproximação das pessoas,arranha, alfineta e enfeita temporariamente festas convencionais.Não há sinceridade em meio a tanto glamour.Um desperdício de matéria orgânica completo.


E isso, para mim, não possui a menor graça.


[/quebrando o clima descontraído, mal aí]