Fernanda. Fernandinha não, Nandão. Cabelo vermelho, pintado aos doze. Tatuagem de um dragão nas costas, feita aos quatorze. Piercing na sobrancelha, furado aos treze. Piercing na língua, feito aos.. Calma, esse tá em processo ainda, aos quinze.
No estúdio, a carteirinha falsa de maior de idade espera em cima da mesa. Fernanda esfrega as mãos, apreensiva. Ansiedade. O piercer é gordo. Suor. Tensão. Xilocaína. Agulhão.. foi. E naquela semana, dá-lhe caldinho de feijão. E cara feia dos pais. E revirar de olhos. Agonia. Ferrinho trespassando a pobre língua inchada.
E Fernanda ao telefone com o piercer:
- Rrá buito inrrado!
- Tudo bem, é normal inchar. Só lembrar dos cuidados: nada de mastigar ou ingerir álcool no primeiro mês.
- Arrã.
Sábado, churrascão da turma. Nandão exibe seu trunfo, ainda que ele tivesse custado, temporariamente, a sua dicção. Qualquer festinha é assim, churrasco que não tem carne, nem refri, nem água..só álcool mesmo. E naquele meio, o pessoal se divertindo (pra não falar enchendo a cara), e ela na privação. Dúvida. Loucura. Decisão.
- Derre uma caimpivodka de abacarri!
E tomou uma. Duas. Três. Que abacaxi gostoso.. Nem sentiu nada! Isso é história do piercer, com certeza, álcool deve é desinfetar a coisa.. E era tão bom, isso não é conto do Drummond que o abacaxi decepciona não, esse era delicioso e Fernanda se esbaldava cada vez mais. Música alta. Abacaxi! Álcool no cabelo. Povo enlouquecido. Abacaxi! Fernanda dançando em cima da mesa...
......
Hospital. Dor. Olhos pesados. Mas assim, abrindo devagar, até que ela suportava a claridade... Garganta seca. Precisava de água. O que tinha acontecido? Duas amigas se aproximavam e ela distinguiu na conversa delas: "Nandão caiu da mesa.." Será possível! Nem bêbada ela ficou.. Precisava de água, definitivamente. Abriu a boca para pedir. Dor. Ardência. Estrelas. Olhou no vidro que separava sua cama do corredor do hospital a bola roxa amarelada que correspondia à sua língua. O piercing se escondia por ali.. Desespero.
Duas semanas depois, Fernanda se recuperou. Teve que tirar o piercing, é verdade, mas sobreviveu. Calma de novo, e onde entra o abacaxi desgraçado nessa história confusa? Bem, eu posso até ter me esquecido dele agora, mas tenho certeza que, a partir daquele dia no hospital, ficou marcado na vida da velhinha semi-surda da enfermaria ao lado o grito raivoso de Fernanda ao ver sua língua pós-álcool:
- Abacaxi desgraçado!!!
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Uma história de abacaxi.
sábado, 8 de maio de 2010
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10 Comentários:
- Lais disse...
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eu não sabia que tinha que marcar "Estilo Livre" =(
não me crucifiquem muito.. -
8 de maio de 2010 às 10:29
- Pocahontas disse...
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Paga prenda quem não sabe usar marcadores ! hahah
ficou bem você contando um caso, posso te ouvir até ! lindeza -
8 de maio de 2010 às 10:35
- Lais disse...
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HÁ! aprendi a consertar..
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8 de maio de 2010 às 10:48
- Katarine Inis disse...
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O que importa o marcado... que legal o texto!
Achei muito divertido...
felicitaciones, chica! -
8 de maio de 2010 às 12:35
- Katarine Inis disse...
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Certa semelhança com a realidade, né Leca!
semiconscência... gritos... -
8 de maio de 2010 às 12:36
- Filósofo da pochete azul disse...
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que legal!!! todo mundo é diferente!!
=D
o seu ficou muuuuito divertido... -
8 de maio de 2010 às 13:32
- Aléxia disse...
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isso me lembra uma história que aconteceu na minha vida!HUAHAUHAUAHUAHAU!Adorei,muito criativo!E é muuuito bom que todos nós escrevam com estilos diferentes!eeee!!!!*-*
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8 de maio de 2010 às 15:54
- sandra camara disse...
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a velha crença de que álcool pode resolver tudo... nem sempre! Divertida esta experiencia infeliz? ou feliz? bem começado o abacaxi, que entra bem na sua história!
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10 de maio de 2010 às 11:23
- Lais disse...
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obrigada, gente!! ^^
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10 de maio de 2010 às 19:39
- Lucas disse...
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Muuuuuuuuuito bom
gostei muuito mesmo ! -
12 de maio de 2010 às 18:58
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