Sofrências juninas e o sagrado.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010


Vou contar um caso... O caso lindo do primeiro beijo do meu avô com a minha avó... Vou te situar: Era festa Junina em Jequitinhonha... Provavelmente o leitor não conhece como é. Mas festa junina é um trem bem típico por lá. Cada casa tem decoração própria... As famílias se juntam inteiras. Gente de tudo quanto é cidade e tudo mais. Os meninos ficam correndo pra lá e pra cá, com traques, garrafões e buscapés... Algo inesquecível. É lindo de ver as fumacinhas subindo da fogueira de cada casa... Só de lembrar, dá vontade de que o ano passe rápido. Mas... Pra deixar o caso mais interessante... Vou contá-lo nas palavras do meu avô.

Eu estava a festa inteira olhando pra ela... Um vestido bonito de Deus... Nunca que Lia Tava tão formosa quanto naquele dia, Moço... Coração em disparada, tentei ir pra chamar pruma dançazinha umas duas vez. Mas acabei fingindo que não e indo pro banheiro que era mais ou menos no caminho, num sabe? Pois então. Fiquei nessa de chover e num molhar umas 2 horas.

Foi chegando umas onze e meia... Tinha que chamar a moça logo, senão outro chamava. Sem contar que os rito dos santo (fogueira e tudo mais...) começavam meia noite... Ou era antes, ou era muito tarde... Chamei, forrozeamo uma mais animadinha, proseamo no modo de durante a dança, num sabe? A conversa desembolou e a música ficou mais lentinha... Foi aí que tudo começou:

Do que eu senti na hora, meu coração se almbra até hoje... Na medida em que eu me aproxegava de Lia, a fogueira dos santos começava a acender... Pra modo de ela tá bem acesa quando começasse os rito... E dava pra ver que meu peito e o dela esquentavam junto do fogo santo de Junho. A dança colava a gente e era que como uma sementezinha de flor que brotava quente no peito, num sabe? Sem contar a cor de Lia... Que era muito mais bela iluminada pelo fogo. Num tem nem comparação.

O Fogo foi crescendo... Quer dizer, eu ia percebendo que ia chegando a hora dos rito... Mas, vendo a fogueira, eu comecei a entrar mais na coisa da dança. Meus pés começavam a esquentar do chão quente de fogueira... O perfume da moça se misturava com o cheiro de brasa, incenso e rastapé... eu quase num respirava... O cheiro era tão envolvente que eu nem via mais a quantas andava o rito...

E foi nessa hora que eu fiquei mais doido... a dança tava muito quente... O fogo e o cheiro bão que vinha e parecia que me abraçava assim, num sabe? Eu ouvia de longe um sino... E eu pensava, aqui comigo, que era um anjo tocando pra modo de eu e Lia dançar mais um tiquim... E nessa hora, mesmo do lado da fogueira, nem eu nem Lia sabia onde tava, que horas era, num cabia nem de alembrar do rito nessa hora... Era tudo quanto é sentido do homem dominado, o calor e o corpo de Lia pegando o tato, o cheiro bão de tudo misturado, o som do sino. Faltava só um sabor pra modo de assossegar o paladar que já gritava... Foi aí que a gente se beijou.

E eu sentia que a boca dela era doce... Mas doce... doce doce doce... Como mel! E num se acabava não, sô... Era um beijo que eu e ela beijava sem medo! Esquecido de tudo do lado de fora... O gosto era bom!... Acho que pra modo de provar o amor dos dois, num sabe? Só depois que nós fomos ver que fizemo tudo no meio do rito... Sob os olhos de Maria... Na casa dela... Na casa dela! A mãe do Senhor...