continuação

sexta-feira, 13 de agosto de 2010


Então.Como estava dizendo, peguei a caixa, pesadíssima.Tinha três cadeados, dois de senha e um com entrada muito estranha, como se fosse para aquelas chaves de ferro antigas, que fazem "creck!" ao serem usadas.Impossível abrir.
Mas por que papai e mamãe iam querer largar essa caixa pra trás?Será que era algum esquecimento imprevisível?Virei-a de lado. Além do barulho de cadeados de metal batendo no chão de madeira, ouvi um entranho tilintintar de dentro da caixa.Assustei."Está tudo bem?" Perguntou mamãe.Tá sim,tô despedindo da casa.Que desculpa ridícula.Coitada, deve achar que a filha é maluca.
Notei que, ao mover a caixa de lado, um quê de poeira saiu pelas frestas.Cheguei mais perto, peguei- pareciam cinzas.Sacudi mais um pouco e as cinzas não paravam de sair, o tilintintar ainda mais alto. O chão do closet rapidamente se sujou por completo.
Mamãe me chamou de novo.Bati mihas calças para disfarçar as pistas, fui atendê-la.Perguntou-me se os quartos estavam livres mesmo.Não respondi; alisou meus cabelos e disse : "Você não vai criar chifre na cabeça de cavalo, né filha?Mudança é assim mesmo: a gente lembra do que nos é importante e o resto fica na casa, com um pouco de nós que deixamos aqui.Não tente levar todas as suas vivências neste lugar, o que importa são as lembranças e os aprendizados que cultivamos."
Deixou a pista perfeita: tem algo que ela não quer ver naquela caixa, aliás, que não quer que ninguém veja.Preciso voltar pra lá sem ela perceber, que diabos de segredo minha mãe tem guardado?