domingo, 11 de julho de 2010


Três garrafas, recém-compradas, estão na dispensa. As três tiveram a coincidência de serem muito bem conservadas, e por isso reutilizadas várias vezes. Podemos então imaginar o quanto de experiência acumularam ao longo do tempo. Começaram a trocar idéias sobre o que já vivenciaram, e foi um diálogo bem interessante.

Uma delas deu início à conversa:
- Sabem, acho curioso observar cada pessoa que toma o líquido contido dentro de mim. Na maioria das vezes é uma turma maior que se reúne, sem motivos especiais. Acho que celebram alguma coisa constante, estão sempre brindando antes de beberem. É sempre uma situação alegre, descontraída. Vai ficando, aos poucos, mais alegre e mais descontraída, e eles vão rindo mais alto e com mais frequência.

A outra se manifesta:
- Comigo essa descontração é mais rápida. As situações em que estou presente variam muito, e quando chego é uma festa só! As mulheres olham pra mim de forma maliciosa, dizendo “Jose é o único homem que me entende, com ele sou capaz de tudo!”. E os homens parecem vibrar quando elas falam isso. Às vezes sou consumida como prenda de brincadeiras, que revelam cada coisa... Vocês não acreditariam! O estranho é que já revelaram arrependimentos causados justamente pela minha presença, mas continuam me requisitando mesmo assim.

É a vez da última falar:
- Quando estou presente muitas coisas são reveladas também! Normalmente é em festas, porque acho que me compram por uma pechincha... Dizem que sou como um vinho de baixíssima qualidade. Preciso concordar, porque já fiz várias pessoas passarem mal. E me olham de um jeito malicioso também, mas acho que é porque tenho uma imagem um tanto quanto sensual no meu rótulo. Já se referiram a mim como “afrodisíaco”, mas acho que é só uma desculpa para fazerem o que fazem quando estão sob meu efeito.

Por fim, as três concordam que o ser humano é realmente muito estranho. Já quebraram a cara várias vezes por consumirem aqueles líquidos, mas sempre voltam a ingeri-los e até adorá-los. Além do mais, que graça tem em perder gradualmente o controle sobre si mesmos? Que maluquice.
Opa, chegou alguém. As três se calaram e se deixaram ser levadas, imaginando onde seria o brinde desta vez.