Ela nunca gostou de seguir padrões. Sempre tentou ir contra tudo o que era determinado por aquela entidade abstrata chamada “sociedade”. Não importava se gostava ou não do que estava sendo imposto, ela tinha que ser contrária àquilo. Fazia isso porque achava que assim seria uma pessoa singular, que não segue a maioria.
Não fazia nada que essa maioria fazia. Se determinada música estivesse na boca de todos, sem tê-la ouvido já criava um preconceito e dizia que aquilo não era qualidade, era moda. Só ouvia músicas que tinha certeza de que a maioria na sua faixa etária não conhecia.
Sempre gostou de usar xadrez. Quando essa estampa entrou na moda, foi uma tortura. É claro que ela não poderia mais usá-la, ficaria igual a todos.
Nunca via filmes vencedores do Oscar, eles tinham um público grande demais e todos eram sugestionados a gostar deles, porque estavam na boca do povo. Enfim, fazia tudo o que estava em seu alcance para contrariar o comportamento padrão.
O tempo fez com que ela amadurecesse, e então começasse a refletir sobre seu jeito de agir. Percebeu algo que não tinha passado pela sua cabeça até então: ao mesmo tempo que tentava não fazer parte de um grupo imenso que agia de determinada maneira, integrava outro grande grupo que agia somente em função de contrariar o primeiro. Em ambos, as ações eram controladas pela maioria. A única diferença era que uns agiam pelo padrão, e outros contra ele. Os que agiam contra o faziam por medo de não ter personalidade, e aquilo representava exatamente isso, uma falta de opinião própria.
Percebendo isso, a menina, agora mulher, procurou começar a agir diferente. Não seria como a metade da população, que usa xadrez porque todo mundo está usando xadrez. Também não seria como a outra metade, que usa bolinhas porque todo mundo está usando xadrez. Seria como uma pequena parte das pessoas, que usa xadrez ou bolinhas quando está com vontade.
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