Os fios do bigode.

sexta-feira, 11 de junho de 2010



  Se o atual Presidente do Senado, José Sarney, tem como lema particular a frase “Bem ou mal, falem de mim”, provavelmente é o político bilionário mais satisfeito do país. Em meio a tanta baderna ideológica e corrupção vividas no Brasil dos últimos três anos, Sarney tem o privilégio de ocupar, todas as semanas, o topo do ranking Celebridades Mais Detestadas Por Adultos E Adolescentes Brasileiros.

  O motivo desse disseminado ódio é causado pela consolidação do Império Sarney do Norte, divisão brasileira que abrange o Maranhão e o Amapá e tem adquirido tamanha força política a ponto de possuir um poder Executivo praticamente autônomo. A família Sarney, nestes dois estados, além de controlar o sistema administrativo e ser detentora dos mais importantes meios de comunicação (como o jornal Estado do Maranhão, a TV Mirante e as rádios Mirante AM e FM), ajuda os moradores a decorar rapidamente os nomes dos ambientes que freqüentam. Em São Luís, por exemplo, qualquer pessoa pode se dirigir ao Tribunal de Contas Roseana M. Sarney por meio da ponte José Sarney,avenida Presidente José Sarney e, depois, passar pela rodoviária Kyola Sarney. Isso ainda sem contar as dezenas de vilas,cidades ruas que carregam este maravilhoso sobrenome.

  Entretanto, o que mais toca as impecáveis moral e ética dos cidadãos brasileiros é a atitude do Presidente do Senado em relação aos meios de construir seu império. Desde cedo, ignorando a noção de mérito próprio como meio para atingir objetivos, José Sarney começou sua carreira como oficial de gabinete do governador Eugênio Bastos (papai que conseguiu) e, com 24 anos, já era o quarto suplente de deputado federal, apesar de nunca ter sido sequer vereador. Seu comportamento oportunamente nepotista foi crescendo ao longo do tempo e lhe rendeu diversos frutos assustadores, como a criação, em 2009, de 4000 vagas no Senado sem o pré-requisito de concurso como o meio de ingresso. Devido a aberrações como essa, o político até ganhou, na internet, o apelido carinhoso de Bigode Podre, em referência à imensidão de sujeira e pessoas incompetentes que esconde debaixo de seu bigodinho estilo Hitler Nordestino.

  Uma vergonha para nosso amado Brasil. Como é que alguém que nasceu num país tão correto e justo tem a petulância de tirar vantagem em detrimento de outrem?E , depois, ainda ser capaz de mentir para todo mundo?



  Bom, gente, a vida secreta que comentarei hoje não é propriamente a do Sarney, mas a de todos os brasileiros que criticam fervorosamente as figuras públicas comumente chamadas de “mau-caráter”, mas praticam pequenos atos corruptos todos os dias. Por trás de cada “Fora Sarney”, “Xô corrupção” ou “Queremos justiça!”, existe um cidadão que certamente já mentiu para um grande grupo,deu um jeito de passar a perna no Estado, já tentou ajeitar a situação para beneficiar um ente querido ou o fez em benefício próprio. Filho que junta dinheiro que a mãe dá para o almoço e compra um ingresso para show no fim do mês está desviando verba. Quem tira a maior parte do trabalho escolar do Google e finge que não fez nada de errado também é o maior cara-de-pau. E a furação de filas de banco?Sonegação de impostos?A compra de CDs e DVDs piratas?

  Fico impressionada de ver como não hesitamos em descer a lenha nessa “cambada de ladrão” da política e não paramos para pensar a quantidade de atos ilícitos que também cometemos, mesmo que em proporção menor. Possuímos uma vida cheia de mentiras, dissimulações, e pragmatismo e ainda tentamos escondê-las de todos, inclusive de nós mesmos. E dormimos bem, acreditando que a podridão só se concentra no Senado, no Palácio do Planalto, no Congresso, nas favelas, nas cadeias, nos Tribunais.

  Claro que os efeitos das ações de pessoas como o Sarney tem dimensões muito maiores e mais prejudiciais à sociedade do que alguns atos reprováveis que produzimos. Contudo, ainda sim me parece hipocrisia mostrar fúria tão veemente em relação ao mau-caráter alheio enquanto o tal “jeitinho brasileiro”,que todos temos e muitos de nós se orgulham, não é nada menos que um dos fios podres do bigode do Sarney: sujo.Indigno. Quando junto a outros, capaz de formar os mais expressivos escândalos de corrupção e roubo. E, por mais que possamos tentar retirá-lo de nós a cada instante que o percebemos, ele continua a crescer, insistentemente, bem debaixo de nosso nariz.





Fontes de informação:
Livro "Honoráveis Bandidos", de Palmério Dora
Aula de Teoria do Estado II- nov.2009