Seu nome era João Pinto da Silva. Por causa desse nome, desde a infância era ridicularizado pelos coleguinhas. A maioria dos Joãos vinha com um nome normal depois do primeiro, formando um nome composto. João Felipe, João Luís, João Marcos. O dele não tinha sido pensado assim. Era só João. Mas os colegas insistiam que aquilo era um nome composto, João Pinto. E o chamavam da segunda parte, para distingui-lo dentre seus xarás. E cresceu sendo chamado assim: “Pinto”, “pintinho”, “João Bilau”, dentre outros. Era um horror. Como naquela época não existia o conceito de “Bulling”, não havia muito que se podia fazer.
Pinto cresceu assim. Tinha ódio mortal daquele nome que não impunha respeito nenhum. Não tinha como ser o valentão do colégio, aquele do qual todos morriam de medo, mesmo com sua grande estatura e puberdade prematura. Que criança respeitaria um valentão chamado de Bilau? Tenha dó.
Infância e adolescência conturbadas contribuíram para que João entrasse na fase adulta sem muita confiança em si mesmo. Aconteceu que começou sua vida profissional como atendente de telemarketing.
Antes de chegar ao trabalho no seu primeiro dia, João decidiu que daria um basta em sua vida de opressão pessoal. Seria um novo João Pinto. Imporia respeito. Todos no trabalho iriam temê-lo.
Entrou em sua nova sala com andar imponente. Olhava para cada um dos outros atendentes com olhar ameaçador, que tinha praticado no espelho. As pessoas rapidamente olhavam para baixo, e evitavam encará-lo de volta. Sentou-se em seu gabinete e começou a telefonar, sendo curto e grosso com os almejados clientes, em alto e bom tom para todos ouvirem. Estabeleceu barreiras pessoais, dizendo para qualquer colega que viesse puxar papo para tomar cuidado, “Você sabe com quem está falando?”. A pessoa logo hesitava, pedia desculpas e ia embora. Não admitia filas para banheiros ou bebedouros, alertando que era melhor que todos ficassem espertos com a maneira como o tratavam.
Sua fama logo se espalhou. Toda a empresa o conhecia como o cara durão, e temiam-no. Boatos se espalhavam, e João ia de policial disfarçado do Bope até integrante da máfia italiana. Ele, vendo o medo que causava nas pessoas, se sentia invencível e respeitado, como sempre quis. Então cuidava de tratar todos com ainda mais aspereza. E os boatos se fortaleciam, já não mais ficando só dentro da empresa. Logo toda a cidade o temia.
Até que um dia, quando João estava sentado em seu gabinete, orgulhoso de sua reputação, chegou um homem encapuzado e deu dois tiros em sua cabeça. João, obviamente, caiu morto na hora. O crime foi investigado e chegou-se à conclusão de que muitos pensavam que João Pinto era uma ameaça, então não havia como chegar ao culpado.
Pelo menos, uma certeza nós temos: Pinto morreu feliz, com o orgulho de não ter se deixado amolecer mais.
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