Véspera do dia dos namorados, e ainda não sei o que vou dar pra Lu. Ótimo. Dois anos de namoro e eu não tenho nem ideia do que ela gostaria de ganhar.
Deitado na minha cama às 19:00 de sexta feira, abraçado aos travesseiros, divago: Quem sabe eu poderia dar a ela o esmalte verde-tendência que ela tinha babado na unha da Gabi, semana passada? Não, descartado. Quem é que dá uma coisa barata que nem esmalte numa data dessas? Eu, não.
Ou talvez aquela echarpe fúcsia da minha mãe que caiu tão bem nela, valorizou o pescoço e é hit do inverno.. Não, do jeito que ela é, pode ter dito que gostou só pra agradar a mamãe. Depois vai ficar com a echarpe encostada no armário dela, pegando traça, o que ela sempre faz.
E a bota 3/4 que ela anda sonhando.. não, infelizmente não posso me dar ao luxo de gastar 500,00 num presente, nem que seja pra Lu.
Me levanto com rapidez e jogo os travesseiros de volta pra cama, num movimento ressentido. Ô mulherzinha difícil da gente arrumar presente! Aliás, se tratando da Lu, não é só de arrumar presente, ela é difícil de convencer, difícil de entender, difícil de conviver. Resumindo, uma mulher difícil. Ainda assim, minha namorada.
Passo pela cozinha impaciente, agarro as chaves do carro e dirijo ao shopping. Não é possível que no paraíso capitalista eu não acharia nada que servisse pra moça. Essa era a cartada final.
Depois de toda a burocracia urbana (pegar ticket estacionamento, achar vaga, ligar alarme, subir N andares), me vejo no epicentro fashion. Tantas opções, tantas cores, tantos preços juntos... e nada me agradava. Na loja de lingeries, não imaginei a Lu usando nenhum dos acessórios; Na loja de eletrônicos, não consegui achar nada que ela fosse gostar; Na livraria, e essa mulher lê alguma coisa??
Já estava quase desistindo e fazendo um cartão com chocolatinho pra ela, olha que romântico, quando vi a esperança final. A loja de um antigo amigo meu de colégio, o Matheusinho. O cara montou o negócio assim que saiu do terceiro ano, começou pequenininho que só a gente via, prosperou, e hoje é administrador de uma grife feminina extremamente bem sucedida. Perdemos contato desde então.
Entrei à procura de algumas opções, mas o que encontrei ali foi apenas uma certeza: O Matheus estava mais lindo do que sempre esteve: Cabelos lisos, pretos como eu nunca vi, crescidos e jogados de lado. Olhos verdes que a gente tinha até vontade de se encolher ao encarar. Terno elegante, arrematado com um lenço no bolso. Barba por fazer, e o inegável ar de maturidade que ganhou com o tempo. Nesse instante, percebi que eu deveria estar agindo muito estranho olhando fixamente para ele, mas pelo modo que retribuiu o olhar, entendi que ele me reconheceu e se aproximaria.
Ok, assumo de uma vez por todas: Matheus foi um antigo caso meu no colégio.. mas essa época PASSOU, PASSOU, foi um período conturbado e eu não lembro dele mais, nem dele e nem de ninguém, eu não gosto nem um pouquinho de caras, imagina se minha mãe soubesse, eu namoro é a Lu! A Lu! A Lu é linda e maravilhosa e é minha namorado, digo, namorada!
Confuso, dei meia volta e não esperei o cumprimento de Matheus, que agora sorria. Voltei à loja de lingeries e saí de lá com uma sacola rosa de presente.
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Dia do(s) namorado(s)
sábado, 12 de junho de 2010
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4 Comentários:
- Katarine Inis disse...
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Pra mim começou com o "hit do inverno"...
que tenso... o coleguinha fala de um jeito "exótico"...
hahaha -
12 de junho de 2010 às 11:46
- Aléxia disse...
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vixe maria, eu já vi um caso que se encaixa tãão bem nesse tipo psicológico...xD
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15 de junho de 2010 às 20:27
- Aléxia disse...
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agora....namoro de fachada é também hipocrisia ou só uma forma de auto-proteção?
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15 de junho de 2010 às 20:28
- Lais disse...
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no caso dele, acho que vai mais pra auto-proteção..
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18 de junho de 2010 às 10:55
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