Enviada: 10 de junho de 2009, quinta-feira.
De: Alice (alicelfreitas@gmail.com)
Para: Nina (nicolina.lima@hotmail.com)
Ó céus, ó Nina! Você não vai acreditar no que me aconteceu!
Talvez eu fosse muito nova, pois não me lembro direito de ter escrito aquela cartinha pro Papai Noel. Depois que você me mostrou é que me veio à cabeça que eu tinha parado de acreditar nele desde que a vovó morreu. Me deu uma raiva, eu não sabia direito o porquê, só sei que descontei na minha crença no velhinho.
Bom, chega de conversa fiada. Tenho que ser breve porque daqui a uma hora estarei entrando em um avião! Além disso, o cyber café desse aeroporto custa os olhos da cara!
O negócio é que acabo de ser abordada por um senhor barrigudo e de cabelos brancos, e foi uma experiência meio bizarra. Ele estava desconcertado e ofegante, e chegou reclamando que eu era uma “criança” muito difícil para rastrear.
Eu me assustei no começo, mas achei sua aparência inofensiva. Perguntei quem era ele, disse que ele devia estar falando com a pessoa errada. Ele começou a tagarelar novamente: “Olha, me desculpe garotinha, comecei mal! É só que esse calor está me deixando maluco! Lá onde eu moro é um pouco mais frio. Só venho a lugares assim uma vez por ano, e tenho que ser bem rápido nas minhas visitas! Vim aqui dessa vez porque o seu caso, pequena Alice, é especial”.
Nina, ele sabia o meu nome! Você pode imaginar o quanto fiquei perplexa. E ele ia continuando, e me tratando como uma criança: “Aliás, não é a primeira vez que você me dá trabalho na minha época de descanso! Ora, o que estou falando? Não é problema nenhum, eu tenho um grande período de férias e é bom dar um tempo daqueles orelhudinhos que vivem me dando trabalho... Veja bem, Alice, vim aqui porque você uma vez me escreveu e me tocou. Palavras de crianças sempre tem esse efeito sobre mim. E eu sinto que fiquei em dívida com você. Sabe, criança, às vezes a vida já tem um plano pra gente. Nesses casos, eu não posso interferir. Era o caso da sua vovó. O que eu pude fazer foi ir acompanhando de pertinho a sua família, e ver como vocês são unidos me tranquilizou!”.
Era de se esperar que eu começasse a achar aquele homem um maluco, mas ele falava com uma honestidade tão grande... Eu não podia fazer nada, senão deixá-lo continuar.
“Fiquei surpreso esses dias, quando fui checar a sua família. Vocês ainda não se desapegaram da vovó Inácia, não é? Ó, querida... essas coisas da vida são complicadas mesmo. Tive que vir aqui falar com você, quitar essa dívida que temos há tanto tempo! O que vou te dar de presente não é nada material. Vim aqui te dar um pouquinho de fé, é só isso. Olhe pra mim, estou bem na sua frente. Quem hoje em dia coloca alguma fé que eu existo? Pois estou aqui para provar! E com o poder que me foi dado, posso também garantir pra você que dona Inácia vai muito bem, e teria sua tranquilidade eterna se você e sua família seguirem em frente, se fossem forem felizes! Só não posso te dizer onde ela está, querida, pois isso nem eu sei. Só te digo, menina Alice, que a vida tem dessas coisas. Às vezes ela nos deixa tristes, mas no final tudo tem seu motivo e tudo acabará bem.”
A essa altura, eu tinha certeza que aquele era a criatura na qual um dia eu acreditei piamente. Nina, você acha que estou louca?
Ele passou a mão na minha cabeça, disse “Até daqui alguns meses”, e foi embora.
E cá estou eu, embasbacada.
Pensando bem, não me importa quem era aquele homem. O que ele disse, mesmo se for fruto da sua loucura, fez total sentido. Às vezes o que a gente precisa é disso mesmo, uma maluquice que nos faz enxergar a realidade. Me deu muito o que pensar.
Só sei que vou guardar com carinho esse presente inesperado, e compartilhá-lo com você e com a mamãe.
Um beijo, estou com saudades!
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